Dia do Trabalho ou seria Dia do Protesto?

Ontem foi dia do trabalho. E, coincidentemente, após um enorme feriadão de descanso e curtição, eis que volto a difícil missão de tirar leite de pedra aqui neste espaço gentilmente cedido – e devidamente cobrado e lembrado disso – pelo idealizador deste projeto criativo. Após chuvas intermináveis em nossa calamitosa cidade, shows de gosto duvidoso e incidentes não muito felizes no restante de nosso continental país, estamos novamente no ar. Back on Business.
Nesses dias de marasmo, apesar de muito procurar, encontrei dificuldades em preencher minhas horas: colocar algumas leituras em dia, cumprir certos compromissos sociais, evitar vizinhos no elevador, jogar fora as cartas dos credores… tá. Isto posto, não me restou muito. Zapeando ansiosamente em busca de entretenimento, impossível deixar de notar que o Dia do Trabalho ao redor do mundo foi marcado por protestos, manifestações, passeatas, atos em praça pública, e uns tantos outros sinônimos que agora me faltam. De bem humorados a violentos, tivemos para todos os gostos. As reivindicações, em cada cenário, dotadas de certas peculiaridades, vá lá, mas uma similaridade inegável as atravessava. Ninguém mais é bobo. No mundo de expropriação, alienação e mais-valia, a massa tem sacado que talvez não precise ser sempre assim. Jornada de trabalho extenuante, vida acelerada e alheada, concentração de riquezas; o dinheiro entronizado no altar da vida contemporânea, absoluto em seu reinado, ditando e moldando as relações, enfiado goela abaixo num modo de vida – de mundo – nos dado, parece principiar a dar sinais de intoxicação alimentar. Tá ficando difícil de engolir. Os engulhos e engasgos mundo afora, a começar por onde se deve, pela cabeça do bicho, prenunciam a aurora de novos tempos? Meus joanetes revolucionários que se contenham, já que me doem demasiado nessas “mudanças de tempo”. O clima anda pesado, a despeito do que os setores conservadores da mídia insistam em dizer.

“A tendência neurótica em repetir os erros de nossos irmãos mais abastados é de fato tentadora, afinal, pra que mexer em time que está ganhando?”

Os maiores bancos brasileiros faturaram 50 bilhões este ano. Nossos juros são dos mais altos do mundo. Tem agência internacional dizendo que o Brasil é um dos melhores mercados para venda de créditos consignados.  A tendência neurótica em repetir os erros de nossos irmãos mais abastados é de fato tentadora, afinal, pra que mexer em time que está ganhando? A inadimplência grassa. Velhinhos endividados estão acuados em seus apartamentos com medo dos frequentes assaltos a residências. Inauguramos UPP´s e a rapaziada precisa trabalhar, dotô. Assisto, assustado, a campanhas e incentivos enviesados ao trabalhador que se formalize, pois assim é o melhor. Por aqui, exceto pelos sindicalistas em São Paulo, tivemos um Dia do Trabalho morno. Faltou-nos verve. As comemorações ocorridas deixaram um grito contido, um suspiro travado, uma emoção suspensa. Entre escândalos e denúncias aproveitamos a chuva e o show vestindo capas patrocinadas por cervejarias. Como se não houvesse clamor. Nem aumento de passagens. Ou remoções indevidas de famílias carentes. Tudo bom e nada presta. É preciso acreditar. A coisa precisa funcionar, segue o baile. De preferência com Mr. Catra e Arlindo Cruz.

Comemoração do Dia do Trabalhador com show de vários artistas na Praça da Apoteose, mais 15 mil pessoas participaram do evento.
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Douglas Evangelista
Douglas Evangelista
Ansioso, acredita sinceramente em panaceias que salvem o mundo e aceita de boa a pecha de tio fracassado em festas infantis. Escreveu aqui e ali na web e sonha um dia comprar um dálmata de nome Billy e descobrir o que é certeza.

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