O futebol está na merda

Em meados de 1999, os primos todos em casa decidiram ir ao jogo do Sport. Eu que não sou grande fã de nenhum time resolvi ir por conta da folia, e também por conta da folia vesti a camisa da TJS (Torcida Jovem do Sport), que o meu irmão guardava com muito carinho na prateleira principal do seu armário.

Olhando para os dias de hoje penso que vestir uma camisa de time mudou de conotação, por vezes é um ato corajoso e por outras um ato de guerra. Naquele 1999, aos 13 anos, eu nem consegui chegar ao jogo, desci no meio do caminho com uma forte enxaqueca. Mas quantos outros jovens de lá pra cá também não conseguiram chegar? Não por enxaqueca, ou coisa parecida, mas porque tiverem suas vidas interrompidas por marginais, que se vestem de organizados para acabarem com a torcida alheia.

A privada é uma coisa simbólica, que poderia ter sido uma cadeira, uma estante, um tiro…

O episódio da semana passada aqui no Recife, no jogo do Santa Cruz contra o Paraná, que acabou na morte de Paulo Ricardo Gomes da Silva, 26 anos, deixa claro em que lugar está o nosso futebol. A privada arremessada por um delinquente colocou de vez o nosso futebol na merda. A privada é uma coisa simbólica, que poderia ter sido uma cadeira, uma estante, um tiro, mas que veio à calhar, para que os cidadãos vejam a merda que está virando o nosso futebol.

A violência fala mais alto que os gritos das torcidas. Cansei de errar o caminho ao sair de casa em dias de domingo e me deparar com a cavalaria da polícia militar escoltando jovens torcedores. Mas que merda é essa? E me desculpem o uso da palavra, mas é revoltante ver o número de mães que perdem seus filhos por uma guerra que não é de ninguém. Cadê o futebol arte? Esses episódios são o reflexo de uma sociedade doente, que viu no futebol o cano de escape para seus problemas, e que vestem “o manto sagrado”, para atingirem seus adversários, adversários esses, que eles não sabem o nome.

A copa vem aí, e junto a ela virão os protestos, os suplícios, as palavras de ordem e a guerra, mas não esqueçam, que muito além do futebol, das chuteiras e dos cofres públicos, estão as vidas dos torcedores e essas são as mais importantes.

Na minha época de escola eu sempre pratiquei esportes, e sei a energia que uma boa torcida dá. Continuo admirando alguns jogadores, pois outros já se venderam à corrupção faz tempo, mas eu nunca pensei que diria isso: parem de escolher time para o meu filho. Hoje eu odeio futebol e também quero que ele odeie. Me desculpem os grandes atletas, mas odiar hoje significa preservar o bem que você tem de melhor: a vida.
E a vocês que continuam amando o futebol fica a dica: façam a faxina, tirem o racismo, a corrupção e a violência, antes que eles acabem dando descarga na vida e na paz de vocês.

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Leila Perci
Leila Perci
Pernambucana, publicitária, curiosa, ansiosa e ainda mãe. Descobriu nesse último papel o prazer de realizar todos os outros. Viciada em cordel, crônica e poesia. Amante das palavras dá um boi pra entrar em uma conversa, e uma boiada pra não sair.

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