Refugiados online

O Brasil está em polvorosa. Aguardamos a Copa do Mundo, em meio a “presos políticos” no Rio, a defesa dos professores na Câmara Municipal e agora a defesa-furto dos beagles em São Paulo… Acredito e desacredito em tudo. Seria presunçoso tentar expressar qualquer opinião neste momento. Estando fora do Brasil, fica difícil acompanhar este cenário. A internet é o único meio. Seja lendo os sites dos principais jornais ou me correspondendo com amigos e familiares.

Não dá pra confiar na mídia (aliás em quatro anos nunca encontrei um site brasileiro decente com o qual eu sentisse que dava pra acompanhar o cotidiano do país). A política e a polícia são sempre do mal. E o Facebook virou o canal e ao mesmo tempo o refúgio da “liberdade de expressão” (não estou no Twitter, então não posso avaliá-lo). As manifestações são legítimas, mas estou muito longe pra participar. Então perdoem o desabafo.

Já não aguento mais FB. São tantas novidades e opiniões que a gente nem precisa mais ler outras fontes. Basta compartilhar, reproduzir e expor suas ideias e indignações. Vejo proliferarem links de mídias alternativas. Vou lá, leio e não consigo confiar em nada. Na mídia gringa também não (com raríssimas exceções, como The Guardian talvez). No mais, estamos tão ocupados na convivência pelo FB que parece que não dá mais pra viver fora dele. Um santuário onde cada um constrói sua imagem, sua face, através de palavras, palavras, palavras, imagens, hyperlinks (não me excluo daí, galera).

Em tempos de tanta conversa em vão, quando estou quieta e juntinho do meu computador, meu verdadeiro ópio é escolher uma boa fala, de algum pensador, ou artista ou personalidade interessante, e deixá-lo(a) falar o tempo que for, o mais longo possível. As vezes vou fazer outra coisa e continuo escutando. Até pra cozinhar e fazer um alongamento, já testei. Escutei todas as falas da Márcia Tiburi, do Flávio Gikovate, várias da Viviane Mosé e muitos outros do Café Filosófico (excelente iniciativa da CPFL Cultura). Dos gringos, tantas aulas e palestras incríveis estão disponíveis. As palestras do neurocientista e biólogo Robert Sapolski, da Universidade de Stanford foram uma dádiva por uns tempos para mim. As meditações do maluco Terence Mckenna ou os transhumanistas sobre o aprimoramento da humanidade (estes merecem um post!). Verdadeiras lições de ciência e de vida, de graça, online. Entrevistas também, já me inebriei com Angel Vianna, Paulo Freire, com artistas como Richard Serra, Bernie Lubell, Björk, Matthew Barney, tanta gente e tanta questões fascinantes que nos preenchem por tantas horas, meses, anos de reflexão.

Quero mais assertividade, mais profundidade e mais amor, por favor (para usar uma expressão em voga). Por isso eu termino sugerindo uma excelente conversa com Zygmunt Bauman, o sociólogo polonês, autor de muitos livros sobre o conceito da ‘Modernidade Líquida’. Legendas em português!

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Ludmila Rodrigues
Ludmila Rodrigues
Ludmila Rodrigues é carioca, artista plástica, cenógrafa e professora, radicada em Haia, nos Países Baixos. Seu trabalho une a dança à arquitetura, construindo pontes entre os cinco sentidos e a arte, entre a experiência individual e a coletiva. Ludmila também é apaixonada por kung fu e por cinema.

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