Uma fábrica a mais, uma fazenda a menos

A designer Lisa Ma realizou um pequeno feito que talvez não vá mudar o curso da humanidade, mas conseguiu provar para o mundo como a irracionalidade do comércio global desestrutura as economias locais.
Ela viajou da Inglaterra para Shenzhen na China e estudou de perto a população “Made in China”. Lisa documentou a atividade de uma fábrica de joysticks – essas pequenas peças de design que já nascem velhas. Pois como ela mesma afirma no vídeo abaixo, o joysticks perderam lugar para os smartphones e ipads da vida.

Ela conversou com os gerentes desta fábrica e questionou quem produz a comida de toda a gente que diariamente migra do campo para as fábricas? Então ela propôs um rodízio dos operários, entre a linha de montagem e um trecho de terra, próximo à fábrica. Em outras palavras, sugeriu que os empregados passassem metade do dia montando joysticks e outra metade o cultivando a terra, o que ajudaria a equilibrar a demanda de comida e ao mesmo tempo recuperar um laço que aquelas pessoas, camponeses de origem, perderam. De produtores tornaram-se consumidores.

O que ela tenta evidenciar com o projeto “Farmification” é que a intensa migração do campo para as cidades na China e no mundo, tem pesado seriamente na produção de comida mundial em favor da fabricação de qualquer bem de consumo destinado ao mercado ocidental e na maioria das vezes com fim certo no lixo. E aí ela questiona: “quem vai fazer a comida de todo esse povo?” Se milhões e milhões de chineses não trabalham mais no campo, o país tem que importar comida – para não falarmos da desertificação a olhos nus do território chinês. E é isso que já está acontecendo. E o que implica mudanças de preços e um desequilíbrio do mercado mundial, pois outros países agora tem que alimentar dois bilhões de chineses.

Há muito tempo atrás eu já tinha ouvido esta anedota, de que quando os chineses tivessem um pouco mais de poder aquisitivo e decidissem comer frango um dia a mais por semana, acabaria-se o frango para os brasileiros. Enfim, apenas um exemplo, entre muitas lições que podemos tirar dos efeitos de uma insanidade global. Desequilíbrio ecológico, econômico e social, só não vê quem não quer. Aliás, este projeto foi encontrado no blog ‘We make money not art’.

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Ludmila Rodrigues
Ludmila Rodrigues
Ludmila Rodrigues é carioca, artista plástica, cenógrafa e professora, radicada em Haia, nos Países Baixos. Seu trabalho une a dança à arquitetura, construindo pontes entre os cinco sentidos e a arte, entre a experiência individual e a coletiva. Ludmila também é apaixonada por kung fu e por cinema.

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