Um professor caminha pela sala entre os alunos do terceiro ano. “Galera, a parada é a seguinte, vou passar um trabalho de pesquisa pra subir essas notas fuleiras de vocês no diário. Cada um me traz um texto fichamento da internet com a biografia resumida de um político brasileiro. Você, Collor. Você aí, José Sarney. A senhorita, Getúlio Vargas…” Uma semana depois, cadernos na mesa, ritual de vistos e pontuação. Eis que então uma das folhas traz o título: Emílio Carrasco Azul Médici. “Fulano vem aqui!”, “Fala fessor”, “Ô abençoado, que desgraça é essa de Carrasco Azul?”, “Ué fessor, foi o tema que o senhor me passou”. “Garrastazu! Eu falei Garrastazu!”. E o mais interessante de tudo foi quando o professor verificou a fonte: ChatGPT.
A inteligência artificial à serviço do caos.
Imaginaríamos que Wintermute, a IA do profético livro Neuromancer lançado em 1984, cometeria esse tipo de vacilo? Em que linha do roteiro de Ghost in The Shell apareceria tamanha tosqueira?
É assim que as máquinas dominarão a humanidade? Espelhando nosso desconhecimento?
Adolescentes no ensino médio já entenderam há tempos que os caminhos para suas tarefas escolares passam por sites e aplicativos que não lhes fazem trabalhar para compreender aquilo que em tese deveriam pesquisar. O aplicativo Brainly, por exemplo, possui um recurso onde se pode fotografar a página e ele fornece a resposta, ou seja, nem as questões os jovens estão lendo mais.
Cabe também a autocrítica do profissional de educação que necessita entender a mudança drástica que estamos todos passando com a revolução na forma de se obter informação. Um desafio hercúleo se apresenta, e não está claro para onde caminhamos nessa nova era de inteligências artificiais e ignorâncias orgânicas, mas já foi dito que para nos encontrarmos, seja como indivíduos ou espécie, precisamos antes nos perder, parte dessa empreitada parece que estamos conseguindo com maestria.
Estejamos atentos e fortes para os novos dias, porque o novo, o novo sempre vem. E que nunca nos falte amor humor e coragem, caso um Carrasco Azul apareça pela frente.
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Ilustrado por:
Paulo Ferreira
Designer profissionalmente… porém é fotógrafo, ilustrador, mergulhador, montanhista, surfista, músico, mecânico e por ai vai nos fins de semana. Curte automobilismo, bicicletas, skates… E sofre de déficit de atenção!