Das canções da mãe para o seu filho ainda em seu ventre até a música irritante de espera no telefone, de forma direta ou indireta, a música tem uma papel fundamental em nossas vidas. No meu caso foi um pouco complicado. Quem me conhece sabe que costumo descobrir novas bandas e cantores alternativos. Pelo menos uma vez por mês estou ouvindo algum som diferente e o mais legal é que, as vezes a banda cai no gosto popular e eu faço aquela cara de sabichão e penso: “Já conheço essa banda faz tempo”. Esse meu interesse por novos sons está ligado diretamente ao meu antigo hobby de criar playlists musicais quando era adolescente. Já fiz listas no Winamp, Media Player, iTunes… Sem contar os CDs personalizados com listas que dou de presente para os amigos. No texto abaixo conto a minha luta em busca do controle para criar essas listas em uma época sem muitos recursos.
Meu contato com a música aconteceu de forma indireta. Meu coroa passava a maioria dos finais de semana ouvindo discos enquanto cozinhava ou tomava cerveja, me fazendo assim conhecer algumas músicas não tão conhecidas de artistas conhecidos, como Raul Seixas, por exemplo. Nesse período de descobertas musicais existia um problema em relação a forma de ouvir essas músicas com mais controle e liberdade. Achou confuso? Calma, já já eu explico.
“Eu necessitava de mais poder, queria criar meu próprio repertório para momentos específicos que estava vivendo naquela época.”
Naquele tempo o “Jabá” era muito comum nas rádios e, por conta disso, uma música de trabalho de um determinado cantor ou banda era reproduzida até ficar insuportável. Como não tinha controle sobre o que meu pai estava ouvindo, tentava as estações de rádio que tinham programas mais específicos, mas mesmo assim acabava me decepcionando quando, do nada, tocava o “hit” imposto pela rádio para me deixar mais uma vez frustrado. O que realmente me incomodava era falta de controle. Eu necessitava de mais poder, queria criar meu próprio repertório para momentos específicos que estava vivendo naquela época. Pensando nisso, fiquei meio focado em conseguir uma forma de obter esse controle sobre o que realmente gostaria de ouvir.
Muitas pessoas enaltecem o vinil, mas eu nunca fui muito fã, pois, além de ser extremamente caro, exigia uma certa cerimônia e cuidado para reproduzi-lo. Hoje em dia esse “rito” ganhou admiração entre os amantes da música de qualidade sonora (tecnicamente falando), mas o meu problema com o vinil era a falta de praticidade. Era preciso levantar, trocar a faixa ou virar o disco, sem contar quando ele arranhava e você estava longe ou no banheiro. Imagina em um momento romântico?
Com a popularização do CD as coisas foram melhorando. Com um cd-player nas mãos era possível ouvir as músicas em ordem aleatória (mas confesso que esse modo de reprodução não era o meu preferido) e poder ouvir a faixa desejada selecionando com poucos cliques, mas eu queria mais. Era legal, mas não era o ideal. Por mais que um disco seja bom, chega uma hora que você quer ouvir algo diferente, não é mesmo?
E no meio de tantas frustrações, eis que recebo do meu pai o um dos melhores presentes que já recebi: Um aparelho de som 4 em 1. Sim, senhoras e senhores! Rádio, vitrola, cd-player (carrossel que tocava até 3 CDs) e para fechar com chave de ouro ele vinha equipado com um gravador de fitas K7 duplo deck.
A partir desse momento minha vida se transformou. Passei a criar minhas próprias seleções musicais. Entre tantas listas alternativas criei uma série chamada: “Só Rock, Porra!” (a mais famosa, a coleção). Como o próprio título descreve, era uma seleção musical composta apenas de rock. Hoje pode parecer bobo, mas naquela época me sentia extremamente poderoso, pois não dependia apenas das rádios ou ficar preso apenas em um álbum especifico, podia ir além. Durante muito tempo passava horas no meu quarto. Escrevia as músicas no papel e fazia as minhas próprias capas além de coleções especificas.
Tudo era maravilhoso, mas quando saia do meu quarto o mundo lá fora perdia a graça. Queria ficar em casa, voltava correndo depois da aula, já pensando em uma nova playlist e isso começou a mexer comigo, pois na minha cabeça cantarolava as músicas para cada momento longe do meu quarto. Precisava levar aquelas músicas comigo de alguma forma.
O ciclo se concluiu com a compra de um toca fitas (genérico) amarelo. Demorei mais ou menos uns 3 meses juntando dinheiro, mas valeu cada centavo. Tinha nas minhas mãos (ou melhor na minha cintura) a liberdade de poder levar as minhas seleções musicais para qualquer lugar. Finalmente consegui o que sempre quis: olhar para fora da janela do ônibus, vendo as pessoas passarem e ao mesmo tempo ouvindo a música que eu escolhi que deveria tocar naquele momento.
E foi assim durante vários e vários anos. Trocando de modelo, comprando fones melhores, pilhas recarregáveis… Até que a fita K7 perdeu espaço para o disc-man (pois já era possível gravar músicas em CDs) e logo em seguida os MP3 players. Esse último especificamente me acompanhou até 2005. De lá pra cá o celular tomou conta dessa simples função e a minha evolução tecnológica com a música continuou para os fones de ouvido. Desde 2007 passei a fazer uso de fones Bluetooth (sem fio) e hoje em dia raramente uso fones convencionais. Uso o Spotify para ouvir minhas listas e as de outras pessoas e com alguns cliques consigo ouvir a maioria das músicas que desejo (e de fora legal). Muita coisa mudou, mas a minha vontade e admiração pela música continua com a mesma intensidade.
Continuo descobrindo novos sons, bandas e artistas, mas isso é papo para um outro post.