Coelhos, dragões e a nossa antiga imaginação

O coelho pequeno corria assustado, enquanto um maior espantava um gato. Ali perto, na mesma direção, um dragão cuspia sua língua de fogo para o ar. Ninguém viu. Andamos cada vez mais olhando para baixo, para os nossos umbigos, dedos e os queridos SmartPhones. Em meio ao espetáculo diário, o céu é  esquecido. Caiu na paisagem da paisagem, todos os dias recruta o sol, a lua, as estrelas e as nuvens para um grande espetáculo e estamos  presos ao mundo embaixo dos nossos pés. Ver desenho nas nuvens ficou no passado e estamos sempre querendo saber o aplicativo mais recente e aprender a lhe dar com a última atualização do Facebook. Enquanto isso no Instagram, a hashtags céu tem mais seiscentos e cinquenta e três mil menções, registrar ficou mais interessante do que contemplar. 

Havia uma época, não muito distante, em que as famílias se uniam à vizinhança para ouvir algumas histórias e criar outras olhando para cima. Os encontros das nuvens permitiam que o cérebro decodificasse a poesia enviada pelo céu. Estamos muito horizontais. As vias terrestres recebem as buzinas, pneus gastos e IPVAs. Sim, as nossas mentes estão focadas em passar de 60km/h já que andamos atrasados demais para esperar o sinal que acaba de ficar vermelho. Estamos apressados, focados em pagar esses mesmos IPVAs, IPTUs, IPIs, “PQPs” e o Google sempre querendo adivinhar o que vamos digitar para ‘autocompletar’ o nosso raciocínio, afinal, temos pressa. Estamos circulando em volta e cada vez mais redundantes feito os buracos nas vias. Nesse momento um pneu acaba de estourar.

Uma vez, uma senhora chamou a atenção do garoto. –“ Você vai cair”. Ele nāo ouviu, a intenção era alertá-lo de que andar e digitar são dois verbos, na concepção dela, incompatíveis. Quando era criança, foi tentar levar a sua boneca à praia e a perdeu. Para ela, há tempo para tudo nessa vida. Devemos mergulhar de cabeça no que estamos fazendo, se não o tempo, no caso dela o mar, vai levar tudo rapidamente. É, na atualidade estamos simultaneamente assistindo Orange is The New Black, jogando Farm Heroes Saga e “stalkeando” aquela amiga do Crush. Como já disse Caetano Veloso, um carinho, às vezes, cai bem. É que a gente esqueceu de fazer carinho… Estamos andando nas nuvens, mas esquecemos o céu. E enquanto isso, as estrelas só querem ser apontadas pelos casais apaixonados aguçando aquela imaginação esquecida.

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Leila Perci
Leila Perci
Pernambucana, publicitária, curiosa, ansiosa e ainda mãe. Descobriu nesse último papel o prazer de realizar todos os outros. Viciada em cordel, crônica e poesia. Amante das palavras dá um boi pra entrar em uma conversa, e uma boiada pra não sair.

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