Salvem os leitores do Trevous!
Aqui vai o meu primeiro post, já um tanto atrasado, diretamente da Holanda. Resumidamente eu vivo e estudo em Haia há dois anos e meio. Haia fica na costa do Mar do Norte (moro pertinho da praia, assim como quem está no Leme), a quarenta minutos de trem para Amsterdã, vinte e cinco minutos para Roterdã e por aí vai. A Holanda é do tamanho do estado do Rio, é linda para alguns e chata para muitos. Tenho muita coisa pra contar, além da minha experiência como estudante de arte, a experiência de estar num meio internacional entre outros estudantes de arte, provenientes de todas as partes do mundo; e as pequenas diferenças culturais que eu subestimei quando vim pra cá. Por isso, na época criei um blog sobre a minha aventura pelas terras baixas. Lá ficam os relatos pessoais e por aqui eu vou falar das pequenas descobertas que se fazem no dia-a-dia, pela web ou até andando pela rua. (aquelas diferenças culturais que mencionei, para quem vem do Rio, Brasil, e chega na Holanda achando que vai tirar tudo de letra, são poucas, mas são grandes, vocês vão ver).
Só para introduzir o tema de hoje, é preciso deixar claro que a Holanda é um país altamente controlado. Nos sentidos físico, político e fiscal. A segurança nacional é feita por um complexo de policiais, câmeras, leis e multas que sufocam holandeses e estrangeiros (grande parte da população). A tranquilidade de ir e vir – que não se compara ao estresse da cidade do Rio – é garantida na base da vigilângia ostensiva. Controlam os seus passos do aeroporto até a entrada da sua casa. E estando no país das bicicletas, ai de ti se cruzares com um policial, estando na tua bike sem as devidas luzezinhas à noite, por exemplo, ou furando o sinal de bicicleta. Todos temos histórias para contar das multas mais revoltantes do mundo. Como diz um holandês, amigo meu, tudo aqui é muito apertado. É verdade. E eu vou tentar explicá-lo através dos meus posts (espero que não sejam longos demais!).
Caminhando por Amsterdã outro dia, numa vizinhança já fora do centro turístico (o que quer dizer mais vazia, pois o centro de Amsterdã pode ser insuportável), me deparei com esta placa que estimulou minha imaginação:
“Lojas protegidas com Spray de DNA”
O que viria a ser o spray de DNA?? Como funcionaria aquilo? Eu ri, com meu namorado, que é holandês e também não entendia, imaginando todas as possíveis formas de pegar um ladrão com spray de DNA. Seria algo que entra no seu código genético e lhe tacha de ladrão para sempre? Seria um spray que tem a capacidade de roubar o seu DNA e entregá-lo na delegacia? E mesmo assim, teriam os policiais todos os DNAs dos bandidos ou cidadãos da Holanda? Não… E mesmo assim, teriam eles o direito de aplicar tal spray em alguém?
Permaneci com todas estas questões naquele dia, rindo comigo mesma da audácia da polícia holandesa. Claro que numa busca rápida no Google eu descobriria o que é um spray de DNA. Continuei contando a amigos e rindo com eles, elocubrando sobre a segurança das lojinhas de Amsterdã. Finalmente uma amiga local disse saber como funciona e esclareceu tudo (preciso contar aqui e cortar a imaginação de vocês também?), afirmando que o sistema ainda não está operando plenamente. Basicamente eles instalam as placas para intimidar os candidatos a assaltantes, antes mesmo do esquema funcionar. Faz parte da prática deles também subestimar a inteligência do povo. Fazer crer também funciona, quem sabe? [Não posso evitar de lembrar da música dos Titãs, de 1986, Polícia. Antes da reforma ortográfica da nossa língua teríamos o acento ali no “para”, para justificar o duplo sentido de “Polícia pára quem precisa, Polícia para quem precisa de polícia”. Bom, na minha utopia imaginária, não precisaríamos de polícia.]
Parabéns Ludmila! Muito interessante seu post!