Essa esmeralda maravilhosa. Um leilão. Tambores anunciando algo grande por vir. Tensão e jóias que lhe brilham os olhos só pela forma como são descritas. É assim que se inicia.
Alcançar nossos objetivos parece ser tudo o que precisamos para atingir a felicidade plena. “Quando tal coisa estiver resolvida, terei paz”. Isso é o que todos nós pensamos, achamos e sentimos frente às angústias e dificuldades que a vida apresenta. E só depois que estiver concluído, poderemos brindar.
Ué. Não é a vitória que você quer? Então por que não brinda? E aí, embarcamos num mar profundo de insatisfação e apatia interpretado por Don L na música Morra Bem, Viva Rápido.
Ele conseguiu. As marcas, as mulheres, as pérolas… suas rimas são tão preciosas quanto as taças de Chandon. Caras. Fizeram com que ele atingisse um patamar financeiro que não conhecia anteriormente. Mas então, por que seus sonhos continuam tão cinza? Don, viva! É o que ele pede para si mesmo enquanto observa letárgico tudo o que está a sua disposição.
Antigamente, ele até pensava onde poderia chegar se pudesse comprar aquelas joias que via na vitrine. E hoje, já sabe que o topázio azul piscina combina com as rodas cromadas do carro. A modelo sorri. Fez seu negócio virar, mas isso não aquietou as perturbações em sua mente. Cigarro, Dreher, cafeína… tudo o que for possível para expulsar seus demônios seria válido. E proclama:
Os versos finais soam como conselhos a quem quer ter essa luxúria. Aguarde, trabalhe e terá. Entretanto, o material não foi o suficiente para sanar a depressão que assola a mente de Don L. Então, qual seria o propósito afinal?
A busca incessante pela fama e o material é uma pauta recorrente entre artistas que estão em ascensão. Victor Xamã canta sobre isso em Garcia, com versos que dizem que, o que antes parecia excessivo, agora se tornou pouco. Mas ao mesmo tempo, não se reconhece mais.
Em Morra Bem, Viva Rápido, Don L explora muito essa dicotomia entre o sucesso monetário não suprir as lacunas de saúde mental que o assombram desde antes da fama. Quando não se tem nada, acredita-se que o poder aquisitivo lhe abrirá portas inimagináveis. E sim, isso pode realmente acontecer. Mas será o suficiente?
No clipe, temos uma criança andando acompanhada de mulheres em um carro chique com um chofer. Todos parecem insatisfeitos com o lugar onde se encontram.
Ali, vemos que toda a inocência do eu lírico foi corrompida por um universo noturno. Parece instigante, divertido, mas é possível sentir o cheiro de cigarro e álcool só de observar a cena. E o carro dá voltas e voltas, percorre toda a cidade, porém não chega a lugar algum.
Quando diz que tudo de bom que ele cita no som espera por você, não é como se a chave do segredo fossem todas essas coisas – no sentido mais básico da palavra. Você vai conquistar sim o que deseja, mas não pense que isso vai suprir seu vazio emocional. Tudo de bom que você quer, já é palpável.
É como uma grande enganação. O leilão atrai os compradores como se fosse a chegada até a fama. Porém, ao atingir aquele patamar, o que será leiloado é justamente sua própria vida, sua inocência. Isso corrói, faz com que sua mente procure propósito, vague incessantemente, até que pereça. E então, chega a próxima vítima a ser leiloada. Pois “quem chegou agora, não sabe a maluquice que fizemos. Quem chegou agora, vai realizar um sonho”.