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Summer Wagner e o sonho febril do mundo pós-industrial

O trabalho da fotógrafa americana que usa a luz como um recurso para dar uma perspectiva quase sobrenatural a fotografia ensaiada

A “fotografia ensaiada” ou Staged Photography, é um gênero que tem ganhado minha atenção mais recentemente. Sempre fui muito fã do Street Photography. Acho fascinante a habilidade de conseguir enquadrar algo interessante ao vivo, no improviso. O que torna o contrário, não lidar com o imprevisível e montar uma fotografia do zero, uma ideia limitada, onde poucos fotógrafos se destacariam. Algo que debato comigo mesmo depois de conhecer o trabalho de Summer Wagner.

Chemical Baptism One: Cult of Pebbles (2022)
Overgrowth at the Abandoned Millwood Plant (2022)

Formada em cinema, a fotógrafa americana Summer Wagner foi mais uma a emergir no boom dos NFTs, com trabalhos vendidos em formato de coleção. Tem uma técnica de trabalho bem consistente que usa longa exposição somada a um tratamento de cor para brincar com a luz e o tom de suas fotos. Dando um ar sobrenatural às suas composições.

Seus primeiros trabalhos, como “The In-Between”(2021) e “The Parody of Tangled Thread” (2022) são experimentos dessas técnicas. São obras variadas, que pouco parecem construir uma narrativa ou um tema concreto. Se utilizando de locais, tons, personagens e abordagens diferentes. Muitas delas, inclusive tendo a própria Summer como objeto fotografado. O que fica desse começo são algumas temáticas: a relação entre as fontes de luz com os indivíduos e os locais com os mesmos.

A verdade é que o grande trunfo de seu trabalho está na história que a forma como artista. Apesar de passar sua adolescência na Califórnia, Summer começou suas fotografias quando regressou a sua cidade natal no “Cinturão da Ferrugem” (Rust Belt). Um local do meio-oeste estadunidense que recebeu esse nome graças ao processo de decadência de inúmeras indústrias desde os anos 1950. Com pátios vazios e sem trabalhadores, o que restou nessas cidades de interior foi uma classe média estagnada e a ferrugem das fábricas fechadas.

Como o ambiente sempre foi um elemento crucial em suas fotografias, aos poucos seus trabalhos começaram a dar uma atenção maior a este local, deixando de ser apenas um pano de fundo e se tornando um personagem à parte. Ainda contemplando sobre o espiritual, mas também sobre o meio ambiente e a tecnologia nesse meio “pós-industrial”. O resultado disso é a sua mais recente coleção “Midamerican Fever Dream”(2023/2024).

“A paisagem é tão agente sobre um personagem quanto o personagem é um agente sobre a paisagem em si.” – Summer Wagner, sobre “Midamerican Fever Dream”

Fonte: summerwagner.com

Nesse trabalho, Summer traz vários recursos para construir uma narrativa que misture todo o espiritualismo dos seus trabalhos anteriores com o contexto social que ela aborda. São fotos acompanhadas de textos e animações. Contando a história de uma família que depois de um ritual, deve se confrontar com suas próprias sombras. Refletindo sobre o que esses indivíduos se tornaram após se desgastarem nessas industrias acabadas.

Theatre of Salt and Stone (2023)

December, 1949 Judith: for when you are in your winter and in need of deep change in direction and spirit. The ritual I’ve drawn is best practiced on a waning or new moon. Like the seed planted in dark soil, you will start your journey in the shadows. The greatest alchemy we achieve through our practice is the transmutation of the soul. It is easy to know ourselves, but a great challenge to transform what we know into something entirely new. Drink deep. The wind through the tunnel will be beastly for a time. Sweep the path before casting the circle, your mother doesn’t tend to the tunnel since your father started back at the factory. Yours, Grandma Helen

Dezembro, 1949 Judith: para quando você estiver no seu inverno e precisar de uma mudança profunda de direção e espírito. O ritual que desenhei é melhor praticado em uma lua minguante ou nova. Como a semente plantada em solo escuro, você começará sua jornada nas sombras. A maior alquimia que alcançamos por meio de nossa prática é a transmutação da alma. É fácil nos conhecermos, mas um grande desafio transformar o que sabemos em algo inteiramente novo. Beba profundamente. O vento através do túnel será bestial por um tempo. Varra o caminho antes de lançar o círculo, sua mãe não cuida do túnel desde que seu pai começou na fábrica. Sua, Vovó Helen

Douglas Live (2024)

A spiritual war taking place. A battle for the soul of every person alive. Children of the light and dark. Regular people caught in crossfire. We must take responsibility. We must build an ark. Oatmilk and lip balm for Bridget.

Uma guerra espiritual acontecendo. Uma batalha pela alma de cada pessoa viva. Filhos da luz e da escuridão. Pessoas comuns pegas no fogo cruzado. Devemos assumir a responsabilidade. Devemos construir uma arca. Leite de aveia e protetor labial para Bridget.

Coming of Age (2024)

And she unfolds.
Like holiday paper.
Like a piece of silk.
Like laundry on the line
For all to see
She unfolds
Like a dream with no story.
Like a lost memory
Like a forgotten feeling
And it hurts
Like a dream with no story
Like a lost memory
Like a forgotten feeling

E ela se desdobra.
Como papel de embrulho.
Como um pedaço de seda.
Como roupa no varal
Para todos verem
Ela se desdobra
Como um sonho sem história.
Como uma memória perdida
Como um sentimento esquecido
E isso dói
Como um sonho sem história
Como uma memória perdida
Como um sentimento esquecido

Blue Bird (2024)

It’s where dad worked. That big abandoned building on Main Street. They say it’s the biggest abandoned building in the whole United States. It’s so big, it’s where we built machines that build the machines. Anyways, this place built textile machines, and it built me in a way. That sort of thing. A place kind of shapes you.

I’m standing in front, outside the gates. I’m there for an interview but the whole place is boarded up and falling apart. I feel…soft and swollen. I feel something in my chest, like when you’re about to cry and there’s that tightness and that lump. But the lump gets bigger and bigger and I can feel it coming up my throat until finally this bird, a bluebird, flies out right onto my hand! He’s staring at me and I’m staring at him, little guy. I felt bad for him, you know, being stuck there inside me for so long.

É onde meu pai trabalhava. Aquele grande prédio abandonado na Main Street. Dizem que é o maior prédio abandonado de todos os Estados Unidos. É tão grande que é onde construímos máquinas que constroem as máquinas. De qualquer forma, esse lugar construiu máquinas têxteis, e me construiu de certa forma. Esse tipo de coisa. Um lugar meio que molda você.

Estou em pé na frente, do lado de fora dos portões. Estou lá para uma entrevista, mas o lugar todo está fechado e caindo aos pedaços. Eu me sinto… mole e inchado. Sinto algo no meu peito, como quando você está prestes a chorar e há aquele aperto e aquele caroço. Mas o caroço fica cada vez maior e eu posso senti-lo subindo pela minha garganta até que finalmente este pássaro, um pássaro azul, voa direto para a minha mão! Ele está olhando para mim e eu estou olhando para ele, garotinho. Eu me senti mal por ele, sabe, por estar preso lá dentro de mim por tanto tempo.

Seja pelo domínio da técnica ou sobre as temáticas abordadas, Summer consegue ser uma das maiores expoentes atuais desse gênero de fotografia. Seu trabalho pôs uma pulga atrás da minha orelha sobre a fotografia ensaiada. Ainda acho ser um espaço meio limitado para inovar e ser criativo. Mas ainda assim, quando um artista consegue inovar nesse espaço, ele faz jus ao seu trabalho e faz com bastante mérito.

Para conhecer mais do trabalho de Summer, acesse seu site ou siga-a no Instagram ou twitter.

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Yuri Maia
Yuri Maia
Roteirista, escritor e fotógrafo, todos ainda em prática. Sempre ouvindo podcasts e filosofando o porquê das coisas comigo mesmo. Amo cinema, relações Internacionais e história. Meio prolixo, só me concentro no trabalho ouvindo trilhas sonoras e bebendo um copo de mate.

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