Feios Felizes

Ilustrador convidado: Eduardo da Matta

Nunca me achei o mais bonito dos meus amigos. Embora seja um pouco narcisista e até mesmo suavemente egoísta, jamais tive a pretensão de querer ser o mais atraente da minha roda. Contentava em “ter que conhecer a pessoa primeiro” e lutar para sair da “friendzone” para poder ter alguma chance de conquistar a batalha na faixa de Gaza do amor. Não que pudessem me apelidar de patinho feio ou Shrek, também não chegava a tanto. Mas não dá para negar que levei alguns foras ao longo da vida.

Em negociação com a minha auto estima, acho que Afrodite, Inês ou alguma outra Deusa do amor me deu mais acertos que foras quando o assunto era pegação. Talvez o fato de saber que nunca seria o Brad Pitt do lugar fez com que eu me tornasse mais comunicativo, e isso tenha me ajudado a desenvolver aquilo que os cariocas tanto gostam de chamar de “malandragem”. Cada um vai à luta com o que tem e minha arma do sex appeal sempre esteve mais para uma daquelas lanças medievais do que para uma AK47.

Conheço um casal onde ambos são dignos de estampar uma campanha de perfume da Carolina Herrera de tão bonitos. Certa vez, através de amigos, cometi o erro de ir para a balada com eles. Enquanto meu grupo e eu dançávamos, ríamos e bebíamos, eles continuavam lá: lindos e intocáveis. Posso dizer que a balada inteira ia até o chão ao som genérico de qualquer diva pop, menos o casal de bonitos. Eles se recusavam a mexer mais de dois membros por vez. Rebolar? Jamais. Twerk? O que é isso. Minha bisavó se moveu mais no próprio funeral que aqueles dois lindos na pista de dança.

O que realmente me incomodava eram as pessoas que alimentavam o voraz ego dos dois. Como eles gostavam de se sentir olhados. A sensação que ambos tinham quando outros grupos fitavam seus rostos e corpos esculturais era orgástica, muito mais prazerosa que qualquer ecstasy conseguiria proporcionar. Sentiam-se desejados a cada olhar mais cerrado que recebiam e amavam isso. Só que esse júbilo era tão internalizado que não dava pra ver sequer uma gota de alegria transpirando por suas glandes. Nunca vi a cor do marfim dos dentes deles.

Imagino que na cabeça deles quanto mais blasé você for, mais atraente você é, quanto mais monótono, mais sexy. Talvez os dois estivessem brigados? Não sei. Talvez eles só sejam extremamente sem graça? Com certeza. O que posso falar é que, para mim, a festa foi ótima: fiz vários amigos, beijei alguns deles e me diverti mesmo não sendo a reencarnação de Apolo, o deus grego da Beleza. Como diria minha vó “Quem não tem cão caça com gato e quem não tem KY fode com azeite”. Alguém me traz mais azeite.

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Ilustrador convidado:

Eduardo da Matta

Designer carioca com diversas frentes de atuação; fotografia analogica, digital, audiovisual e artes plásticas. Minha meta é captar as peculiaridades do cotidiano e do zeitgeist e aplicá-las no projeto que estiver atuando, almejo um ponto de vista fora do convencional. Em cada trabalho que eu faço, fica um pouco de mim.

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Gustavo Palmeira
Gustavo Palmeira
Estudou em colégio de padres, era 90% sexy no Orkut, mas hoje infelizmente, alem de roteirista, se apega fácil a qualquer um que der moral no Tinder.

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