Veludo Azul

Tem pessoas que são como se fossem feitas de matéria sonâmbula, como aparições do que escapa de dentro de nós, do que temos de mais terrível e de mais maravilhoso. Foi assim que ela se sentiu quando viu a mulher cantar pela primeira vez. Era um vídeo pouco iluminado, a maquiagem era quase brega, mas a precariedade não era capaz de desfazer o encantamento. A voz da mulher na tela parecia um canto de sereia, o lamento de um passarinho, a anunciação de um anjo, ecoando nas caixas de som de seu computador. Entre tudo que era viral, aquela mulher era um oásis. Ouvi-la era quase meditativo, parecia alumiar as profundezas do seu pensamento. Apresentava uma passagem, uma abertura pra um outro mundo dentro do nosso, pra uma outra coisa, uma raridade. E ela, como todes deveríamos nos sentir diante de raridades, decidiu que estava incumbida de proteger, de zelar por aquele canto. Quase religiosamente. Precisava permanecer perto, vigilante, em defesa da beleza preciosa daquela dama azul.

Nas primeiras semanas, se ateve a acompanhar seus rastros pela internet. Vídeos e mais vídeos, lives e mais lives. A cada sensação de um “ao vivo”, seu coração acelerava, seu peito parecia que ia explodir. Era como se ao falar com a câmera, a mulher falasse com ela. Apenas com ela. Suas faces ficavam rubras só de pensar. Fantasiava que ela lhe fazia serenatas, que as duas estavam sozinhas entre as paredes do seu quarto quando a cantora se enroscava em seu corpo e cantava docemente em seu ouvido. Sonhava que sentia os seus quadris colados um no outro, sua coxa entre suas pernas e que dançavam, bem devagarzinho, pelo cômodo. Aos poucos, foi conseguindo criar alguma familiaridade, como uma espécie de fã cativa. Começou a descobrir detalhes sobre a vida daquela cantora misteriosa. Pequenos gostos, como um determinado vinho que bebia sempre direto da garrafa, ou o nome de seu filho que às vezes a chamava do lado de fora da câmera. Informações nas quais ela se agarrava fervorosamente, como sinais do início de uma intimidade. Mas a virtualidade, com o passar dos dias, se tornava mais e mais frustrante. Era terrível saber que ela não escutava seus aplausos, não vislumbrava seu sorriso, não tinha dimensão da admiração que tinha e muito menos tinha consciência de como a defendia para todas as pessoas, em todas as oportunidades. Do outro lado, os incentivos para a cantora pareciam apenas decair. O número de fãs diminuía, ela falava cada vez mais em dívidas, se tornava mais ansiosa, mais furtiva e em consequência, bebia cada vez mais e mais garrafas de vinho. Apesar do esforço contínuo em divulgar e propagar aquela artista encantadora dentro do seu círculo, ela se sentia impotente em não poder confortá-la de nenhuma forma, de nem ao menos conversar com ela. E o perigo de que aquela mulher com voz de anjo acabasse abandonando as lives, abandonando o canto, abandonando-a completamente, parecia mais real e próximo. Ela não queria ser abandonada. Não podia. Não saberia conviver mais consigo mesma sabendo que tinha fracassado em zelar por aquele canto, em dar palco para aquela figura tão rara e importante.

O primeiro impulso foi lhe escrever e-mails, como cartas de agradecimento por manter sua arte em um momento tão difícil. Parecia algo nobre, razoável, até de práxis na relação ouvinte e cantora. Depois, começou a mandar pequenos presentes, como flores ou uma embalagem de chocolates. Sentia-se um pouco envergonhada de cortejar uma mulher estranha desse modo, mas não podia evitar. Na tela, a cantora começou a agradecer pelos enviados, a dedicar canções para a mulher maravilhosa que lhe presenteava. Seu orgulho foi crescendo. Agora tinham uma espécie de relação, agora ela existia dentro daquele mundo tão encantador. Ela tinha um propósito. Aquele orgulho lhe enchia de coragem. Os presentes ficaram mais ousados. Mandava pra cada show uma garrafa do vinho que ela bebia sempre, acompanhada de alguma coisa que tinha comido no dia, pra que pudessem compartilhar uma refeição em comum. Como se comessem juntas da mesma comida. Depois, mandou brinquedos para o seu filho na data próxima ao dia do seu aniversário. Gestos que começavam a denotar um tipo de paixão, uma atenção carinhosa. A cantora, do outro lado, parecia continuar encorajando-a. “Sua mecenas adorável”, dizia, agradecendo a sua fã delicada que acendia uma luz no fim do túnel daquelas relações frias da internet. Ouvi-la falar assim fazia seus olhos brilharem, seu coração parecia tentar sair por sua boca, suas mãos tremiam, sua buceta latejava. Sua cantora, sua ídola, lhe adorava. Cantava e dizia que lhe adorava. Era uma vitória, a paixão ganhava terreno. Então, segura de que estava sendo bem recebida e, mais do que isso, excitada por ser tão calorosamente encorajada, lhe enviou um tipo diferente de presente. Como que numa extravagância, num despudor. Ela lhe enviou uma caixa, muito elegante e nitidamente valiosa, com uma lingerie de renda azul.

Depois da encomenda enviada, o terror da dúvida cresceu em seu pensamento. Poderia ter feito algo muito esdrúxulo. A cantora poderia se assustar, poderia achar vulgar demais receber assim roupas íntimas de uma completa desconhecida. Poderia cortar de vez aquela estranha relação que criavam. Poderia ser a corrupção definitiva de todo o carinho, manchando sua inocência. De fã adorável para uma tarada sem controle, uma idiota. Esperou ansiosa pela live, pela resposta. Roeu todas as suas unhas. Quase arrancou todos os pelos de sua sobrancelha. Quando a dama começou o vídeo, cantou duas canções seguidas. Nada de falar dela, nada de mencionar o novo presente. Tinha traído sua dama, ela teve certeza. Queria chorar de vergonha, se enfiar em um buraco. Foi quando, para sua deliciosa surpresa, percebeu a alça azul de renda por baixo da camisa. Percebeu o pequeno sorriso nos lábios. Ela estava vestindo seu presente. Ela tinha aceitado sua oferta. Em algum lugar do outro lado da câmera, entre as coxas dela, sobre a buceta dela, estava a delicada renda azul que tinha escolhido. Ela era mesmo sua dama azul. Tudo não estava perdido afinal.

Naquela noite, não conseguia dormir de tanta excitação. O tesão daquele prazer vedado, daquela permissão silenciosa, lhe consumia. Sua testa ardia, sua buceta ardia. E nada que ela fazia podia acalmar aquela vontade incendiária. Só de pensar que a outra poderia estar deitada em sua cama vestindo apenas sua lingerie, tocando-se por baixo da calcinha que ela tinha escolhido, gozando na calcinha que ela havia escolhido, aquilo era insuportavelmente maravilhoso. Era impossível continuar sendo a mesma pessoa a viver a mesma vida patética e sem importância. Aquele tesão era sua importância, sua relevância, seu testemunho. Tinha sido aceita por um anjo. Ela usar seu presente era quase como poder tocá-la, roçar nela. Um “quase” esmagador. Não era mais suficiente. Era óbvio que nunca seria suficiente estar quase com ela. Precisava conhecê-la, romper a barreira, a parede, a divisa. Ela iria vê-la. Mesmo que parecesse loucura, mesmo que soasse como um atentado. Ia seguir o canto da sereia, corajosamente, enlouquecidamente, até o fundo do oceano, ou melhor, até a porta de sua casa. Não tinha mais escolha. Estava enfeitiçada.

No táxi, a caminho do endereço, voltou a sentir a dúvida mordendo sua consciência. Poderia ser uma estupidez chegar assim sem nenhum convite na porta do apartamento de alguém. Uma invasão, sem dúvida muito pior do que mandar calcinhas, ou qualquer outra coisa. Se entregar, assim, era um tipo de loucura. Era assumir uma obsessão perigosa. Era querer deitar com uma deusa: uma heresia. E poderia, claro, levar a todo tipo de punição. Policiais, humilhações, pragas, poderia cair tudo sobre ela, num segundo. O medo arrepiava seus cabelos, mas era incapaz de dar meia volta. Sentia que de todas as covardias que já tinha se permitido, ao longo de sua vida, não ir seria a única irreparável. Não poderia conviver com não ter ao menos tentado, sem saber o que é ficar de joelhos na porta do paraíso. A cidade passava pela janela do carro, tudo parecia quieto e perfeito. Pensava ver rosas e tulipas brotando nos canteiros, passarinhos cantando na madrugada. Na escuridão do céu, um tom púrpura parecia reluzir entre as estrelas, os postes piscavam em direção ao prédio. Estava diante da morada de sua amada, o único lugar que sentia ser destinada a ir.

Tocou algumas vezes o interfone, sem obter resposta. A noite púrpura a circundava. Ninguém na rua, ninguém no prédio, nenhum porteiro, nenhum vigia, nenhuma alma viva. O portão, como uma fortaleza, permanecia sólido e imóvel. Ela quase desistia, quando viu as luzes da portaria se acenderem. Duas silhuetas apareceram no hall de entrada. Ouvia alguém chorar e ganir. Se aproximou das grades e distinguiu, na pouca luz da portaria, um homem alto e bruto com uma mulher agarrada, aos prantos, em seu braço. Ele tentava se desvencilhar dela, violento. Até que a mulher, num esgotamento, desistiu e o deixou ir embora. O portão abriu em sua frente, o homem atravessou apressado, deixando uma brecha aberta, sua brecha pra entrar na fortaleza, na morada de sua sereia. Quando entrou, para sua surpresa, reconheceu a mulher soluçando na penumbra da portaria. Era a cantora, sua sereia sonhada, que agora se apoiava nas paredes imundas, derrotada, chorosa e descabelada. Num impulso estranho, tentou abraçá-la. A mulher se afastou, assustada. “O que você pensa que está fazendo? Quem diabos é você?” perguntou a cantora. “A mulher dos presentes”, ela respondeu e sentiu-se imediatamente envergonhada. Sua ídola lhe fitou friamente com seus olhos borrados de maquiagem: “O que você faz na minha casa?” retrucou, áspera. “Precisei vê-la”, ela respondeu. Suas mãos tremiam, a cantora podia notar como suas mãos tremiam, como suava de nervoso. Nunca esteve tão perto. Podia sentir seu perfume, seu hálito. A sereia, que agora parecia quase com uma mulher qualquer, caminhou até uma porta de serviço exclamando: “O elevador não funciona, temos de ir de escada”. A fã a seguiu. Subiram sete longos lances de escada, em silêncio. Chegando na porta do apartamento, a fã, incrédula de estar cada vez mais e mais perto de sua adorada, preferiu esperar na soleira do porta. Como que aguardando um convite, uma permissão. “Agora você quer formalidades? Só higienize suas mãos e não entre de sapatos”, disse a cantora entrando na sala, quase como se estivesse sozinha.

A sala era rosada, mal iluminada, com poucos móveis e um carpete felpudo, manchado de vinho, que cobria todo o chão. Não parecia tanto o império sonhado, mas tinha algo que fazia com que ela, a fã, se apequenasse. Logo, ela se sentou timidamente no sofá, sem saber exatamente como se portar ou que etiqueta deveria ter diante da sua dama misteriosa. Quando ousou abrir a boca para se apresentar, sentiu a mão doce da cantora cobrir seus lábios. Um tanto ameaçadora, a cantora disse: “Nós não vamos conversar. Eu não vou fazer nenhum capricho de fã. Você me deu uma calcinha, eu gostei, mas não é por isso que vou transar com você. Eu não sou puta, entendeu?” Ela fez que sim com a cabeça, tentou manter a calma, mas sentia que suas pernas voltaram a tremer. Não parecia estar bem diante de um anjo, mais para um demônio, ou talvez algum tipo de entidade devoradora de mulheres. “Você vai fazer como eu falar”, continuou a cantora: “Não me pergunta muito e, em nenhuma hipótese, fala do meu filho.” Só então tirou a mão da sua boca. Agora, a fã pôde perceber que a cantora vestia um longo robe de veludo, com – apenas – sua lingerie embaixo. Seus olhos não podiam se afastar daquele corpo, da brecha de pele por baixo do robe, do formato dos seus peitos quase saindo do sutiã. Ela tinha acertado o tamanho do sutiã só de olhar, mas nem nos sonhos imaginou um corpo tão bonito. Teve o impulso de tocar no veludo, mas se reteve. Então, pela primeira vez, a cantora pegou na sua mão e a colocou contra o tecido, bem em cima de sua barriga. Sua palma era quente e, do contrário da imagem angelical que tinha dela, o seu toque era firme, quase bruto. Não havia mais nada de mole ou soluçante naquela mulher sereia agora, era serena e assertiva enquanto pressionava seus dedos contra seu corpo. Foi subindo devagar com a sua mão até entrar por baixo do robe e tocar seu seio. A pele dela era macia e estranhamente fria. A admiradora pôde então roçar no mamilo duro da cantora, segurar o bico entre seus dedos, sentir o seu coração batendo ansioso, como o coração de um pássaro assustado. “Você está tão ameaçada quanto eu” disse para cantora, que agora abriu um pequeno sorriso. Era impossível não ceder à sedução daquela mulher de veludo. Beliscou seu mamilo, a dama soltou um gemido. Num impulso, a fã tentou abrir o robe, mas a cantora a interrompeu: “Tira sua roupa primeiro. Eu quero te ver nua.”.

Ela só sabia obedecer às ordens da sua sereia, queria fazê-la cantar, gemer, gritar. Apagar aquela imagem aflita, escorrida, infeliz. Sua entrega era total aos cuidados daquela musa, quer fosse demônia ou deusa, sabia que iria servi-la até o final. Nua diante dela, percebeu sua dama abrir novamente um sorriso. Sentiu vergonha, tentou cobrir seu corpo de mera mortal, ao que a outra, seca, respondeu: “Não seja boba. Você é muito mais bonita do que eu imaginava”. A cantora puxou uma cadeira, sentou diante dela e deixou o robe cair devagar sobre o chão, revelando lentamente seus peitos, sua barriga, sua virilha, suas coxas. Quando ficou toda exposta, fez um sinal, chamando-a com a cabeça. A fã avançou sobre a mulher sentada, começou beijando seus pés em reverência, com certa parcimônia e delicadeza, e subiu em seguida por sua perna. Lambia e acariciava suas coxas, passeando a língua por toda sua pele. Queria deixar sua deusa toda molhada. A dama então ergueu seu rosto e puxou-a pra cima de si, sentando-a em seu colo. Suas pernas envolviam a cantora, seus peitos eram apertados um contra o outro. A cantora, pra sua surpresa, colou os lábios em seu pescoço. Começou beijando-a fervorosamente, subindo e descendo de sua clavícula até sua orelha. Passou a língua delicadamente pelo seu ouvido. Nesse momento, podia ouvi-la respirar quase que dentro de sua cabeça, quase como se pudesse soprar em seus pensamentos exatamente como a sua súdita deveria adorá-la. Ela colocou a mão por baixo da calcinha azul da cantora, sentindo finalmente sua buceta, a buceta tão desejada, completamente úmida. O clitóris latejava, molhado, inchado, chamando por ela. A masturbou, primeiro devagar, dedilhando lentamente. Sentiu a boca da cantora morder sua orelha, como se quisesse arrancá-la fora. Ouviu-a gemer baixinho. Tocou-a com mais pressão e mais velocidade. As pernas se abriam mais e mais pra ela entrar. Sentia seu quadril se movendo contra o seu. Com uma mão dedava a sua dama, com a outra mão apertava seu peito. A cantora gemeu, pela primeira vez um arfar alto, frouxo, entregue. Sentiu as mãos da sereia pegarem sua cintura e descerem até sua bunda, apertando-a. E, de súbito, com as mesmas mãos que agarravam sua bunda, empurrou a fã pra longe. “Eu não quero quebrar minha cadeira”, lhe disse, “vamos pro chão. Deite-se”. Ela deitou, deixou o carpete felpudo acariciar suas costas. “Abra bem a boca”, disse a sereia. Ela abriu e viu sua dama agachar, lentamente, aproximando a buceta úmida de sua cara. A visão do paraíso, toda aberta em sua direção. Queria devorá-la. Chupá-la até a última gota. Absorver todo o gosto dela. Tomar ela inteira, escorrendo pra dentro de si. Arrancar um pedaço do céu pra si. A cantora sentou em sua cara, rebolando de início bem devagar contra sua língua. Toda sua face agora estava impregnada com o cheiro dela. Sentia as pernas da deusa tremerem, começou a chupar e lamber com mais ímpeto. Podia vê-la acima de si, gemendo e gemendo cada vez mais. E quanto mais a cantora se empolgava, mais forte rebolava contra sua cara. A fã, já enlouquecida, tentou se masturbar com uma das mãos, mas a cantora lhe repreendeu: “Você só faz o que eu mandar e você só para se eu te pedir pra parar, entendeu?”, a admiradora obedeceu e voltou a chupá-la mais firme, energética, destemida. Sentia o clitóris em sua boca, tudo na dama era doce. Se fechasse os olhos, podia ver o céu púrpura estrelado em sua cabeça. As luzes pareciam piscar. Uma brisa quente parecia bater contra o corpo das duas. Ela sentia o carpete quase arranhar sua pele. Sua língua começava a ficar dormente, sua face parecia formigar, mas não podia parar. Não até que ela tivesse satisfeita. Tinha vendido seu prazer pra aquela encarnação de mulher, aquela besta com voz de anjo. Toda a agilidade que tinha, todo o tesão que tinha, eram fogo para fazer emergir o orgasmo daquela dama. Via os peitos dela balançando, via sua boca pendendo pra trás, se preparando para alçar voo, se agitando contra a língua ágil de sua adoradora. Até que soltou o grito. Um grito estrondoso, horripilante, que parecia ecoar no apartamento, rasgar o apartamento, a rua, a cidade. Como um som vindo de outro mundo. Era o som do orgasmo, o orgasmo dos anjos.

Um apito forte tomou seus ouvidos, a fã podia sentir seus lábios dormentes, sua cara toda molhada. Fechou os olhos e ouviu a cantora cantar baixinho. O canto a envolvia, apaziguava a dormência, acariciava sua alma. Podia gozar com aquele canto assim tão perto. Sentiu então uma chuva de lágrimas salgadas caindo em sua direção. A cantora, sentada em cima dela, chorava e lhe pedia desesperada: “Me segure, eu estou caindo, eu estou caindo.” A olhando agora, a cantora parecia outra vez frágil, como um pássaro ferido. Num gesto de doçura e coragem, a fã acariciou os seus cabelos e sussurrou carinhosa nos ouvidos divinos da sua adorada: “Nos sonhos, eu ando com você. Nos sonhos, eu falo com você. Nos sonhos, você é minha. Estamos juntas, nos sonhos. Sempre em sonhos. Durma bem agora. É uma pena que essas coisas só possam acontecer nos meus sonhos”. E assim, a dama, outra vez tristonha, se retirou, deitando no chão de carpete, entregue ao seu próprio império. A fã a cobriu, delicadamente, com o robe de veludo azul, antes de sair. O canto ainda parecia ecoar enquanto ela saía silenciosa do apartamento. O dia raiava no caminho pra casa. Cachorros latiam em sua direção. Nenhum táxi parecia querer parar. Ela foi andando, serena, satisfeita, vitoriosa. Percebeu que um pouco de sangue escorria pra fora de suas orelhas, mas não conseguia parar de sorrir. Ainda tinha o gosto dela em sua boca, o gosto doce e triste da sua adorável dama azul.

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Ilustradora:

Rayane Damasceno

Estudante de pintura na UFRJ, artista e pesquisadora, envolvida com experimentações de diferentes materiais dentro e fora do universo artístico e agora se envolvendo com o ramo da ilustração.

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Julia Limp
Julia Limp
É artista multifacetada. Tem casa no teatro, onde está em formação, mas já trabalha profissionalmente precocemente como atriz e diretora. Tem quintal na música, onde canta, compõe e tem algumas coisas já gravadas e crescendo em direção ao mundo. Mas fez cama na palavra, com quem se deita e tece prosa, cada vez mais perigosa e úmida. É muito surto e muito afeto, trabalha com muito tesão e às vezes com raiva. Pode morder, mas esperamos que só de sacanagem.

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