Todos que são adultos no Brasil sabem que no fim de junho encerrou o prazo para a declaração do imposto de renda na receita federal. Mas aqueles que ainda estão tentando fazer parte desse maduro-grupo não sabem direito o que esse prazo significou. Resume-se que é um monte de cliques em formulários e envio de fichas para plataformas de design horroroso, e assim você está dentro do sistema. Um sistema mais nervoso que o seu próprio.
Não sei exatamente o que eu fiz naqueles cliques, nem qual será o resultado. Só espero não ser preso. Ou pior. Abocanhado pelo Leão, que, convenhamos, é uma figura nada receptiva para quem já está assustado por lidar com entidades que parecem querer te ferrar.
Leão é bravo, caça as presas. E, na cadeia alimentar da vida, não sei se um veadinho como eu está apto a correr de mais esse predador. Assim, na minha debandada da savana jurídica, tentei clicar nos botões certos e agora torço para não ir em cárcere. Foi mais um Show do Milhão Policial do que um acerto de contas com o governo — até porque a conta não fecha, não tenho ideia para onde vão meus impostos.
E não é como se eu não fosse interessado em entender de saúde financeira. Até sigo Nath Finanças no Twitter e assisti uns vídeos do Primo Rico mostrando como é importante ser rico. A vontade de ser um Lobo de Wall Street do Cerrado existe.
Mas a questão é que, quando o assunto é planejamento monetário, o máximo que me foi ensinado é que cozinhar em casa sai mais barato que pedir ifood. E isso nem foi ensinado pela família, que sempre foi fã de X-Nadir. Foi na vida de universitário, onde eu me especializei nos cursos de Miojo 2 e Tempero Sazon Avançado.
Só que, nesse caso, a prática não leva à perfeição. Nem todas as Lasanhas Sadias que comprei me ajudaram a entender as burocracias da vida fiscal no Brasil, me levando a virar um adulto com dificuldades até para lidar com um cartão que “está para vencer”.
Ele vence e eu perco? Ele vence e nós ganhamos juntos? Contra quem estamos lutando? Eu tenho que esperar ele vencer para depois derrotá-lo? A propaganda diz que o cartão é meu amigo, mas o jeito que ele tira dinheiro da minha conta mostra outra coisa. Ensinam coisas inúteis para a gente na escola, mas não ensinam a derrotar o cartão.
Talvez os corpos docentes do Brasil afora até queiram que o cartão vença. Não é possível que não haja maldade no fato deles ensinarem tudo sobre o sistema excretor dos peixes e nem ao menos citar como se declara um imposto. Eu falo como se soubesse o que é essa declaração.
E os educadores ainda têm a pachorra de dizer que a informação é a arma para combater a ignorância. Como céus eles querem que eu combata à ignorância aprendendo a usar uma batata para fazer energia? Eu não sei nem porque existe algo chamado “contracheque” e porque ele limita o próprio nome a mostrar sua posição contrária aos cheques. Aconteceu algo? Por que eles não se gostam? Ele deveria se desprender dessas amarras e procurar um nome próprio, não baseado naquilo que ele odeia.
Mas, enquanto nem ele, nem eu, nos achamos, seguimos firmes aí na luta contra cheques e leões. Agora só me resta descobrir aonde céus eu consigo as informações para domá-los. Talvez estejam no verso da embalagem de Miojo. Tenho que olhar.