Nós somos as pequenas conchas da praia que resistem às marés do oceano, às chuvas de verão e aos ventos da madrugada. Aquelas folhas bem verdinhas que de alguma forma saem do asfalto trincado no calor do meio dia. Aqueles sabiás bem amarelos que teimam em não sair da cidade grande mesmo que a comida seja escassa e a esperança pouca.
O vermelho do sangue daqueles que nos condenam não consegue monocromar o nosso que é tão colorido. Esse nosso sangue é vermelho-fogo como o deles, mas que vai bem além disso. Ele é também laranja, amarelo, verde, azul turquesa, azul escuro e lilás; ele é de todas as tonalidades e nuances que qualquer um puder imaginar. E não tinha como ser diferente, pois, apesar de todo o ódio que sentimos na pele, nossa casca é grossa. Não deixamos o sentimento negativo e obscuro dos outros passar pela epiderme e contaminar nosso interior multicolorido. Essas cores são bonitas demais para ficarem enfurnadas nas peças de roupa de um armário escuro. As cores só existem de verdade quando têm alguma luz nelas, assim como nosso amor. Assim como quem somos.
Fotofobia é uma doença ótica que se refere às pessoas que não aguentam muita luz. A homofobia é quase isso, mas, ao invés de ótica, é mental. Do mesmo modo que as cores, o reflexo também necessita da luz para ser criado. Nos vemos refletidos na dor do outro por já termos passado por uma situação parecida ou por termos precisado da ajuda de alguém em momentos difíceis – que, para nós, nunca foram poucos.
Nos vemos refletidos naquele massacre em Orlando, naquela transexual esfaqueada no meio da rua, naquele aluno da UFRJ morto em pleno Campus, naqueles que são expulsos de casa, naquela que é estuprada por 33 homens, naquele que passa frio à noite, naquela repórter discriminada por racistas, naqueles outros de 326 de nós que foram mortos por pura homofobia ano passado. Mesmo tão colorido, esse sangue continua manchando o chão.
Só não sabe onde começa o arco íris quem nunca nos olhou nos olhos.
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Ilustradora Convidada:
July (Julia) Teixeira
Hey, meu nome é July Teixeira e tenho 24 anos, sou formada em design de animação, mas me encontrei na área de artes para jogos. E aparentemente nos tempos livres eu também faço uns desenhos ai…