Guerra Civil: A Perspectiva de Quem nos Apresenta a Guerra 

Alguns pensamentos sobre o lançamento da A24 estrelado por Wagner Moura 

O filme Guerra Civil (2024), dirigido por de Alex Garland, protagonizado por Kirsten Dunst ao lado de Wagner Moura, é nosso novo orgulho nacional, rendendo comentários em polvorosos nas redes sociais por conta da estreia do filme. A ideia de uma estrela nacional em lugar de destaque em filmes norte-americanos não deixa de alvoroçar nossa síndrome de vira-lata que segue ignorando completamente tudo que é produzido no cinema brasileiro.

A começar com o título (Guerra Civil) que é um pouco enganoso. Digo isso pois trata-se de um road movie que acompanha a jornada da mídia que cobre a guerra. Evidentemente o filme fala muito mais disso, da relação de distanciamento que os jornalistas de guerra têm que estabelecer, da dureza que é realizar esse tipo de trabalho, dos traumas, das situações de quase-morte, do que, necessariamente, discute qualquer tipo de aspecto de uma guerra civil.

Em alguns momentos, o assunto aparece e é possível identificar críticas pontuais. Em uma cena, ainda no início da viagem, somos apresentados a um rapaz que está sendo torturado por outro, o qual comenta que eram vizinhos e estudaram juntos. Um tipo de distorção comum a uma guerra civil. Ainda sim, o roteiro passa muito longe de fazer qualquer tipo de crítica mais profunda, qualquer coisa que minimamente desenhe uma posição ideológica a respeito do suposto principal assunto ao qual seria a temática do filme.

A narrativa principal se dá a partir da relação entre Lee (Kirsten Dunst) e Jessie (Cailee Spaeny), uma fotógrafa de guerra renomada e a outra é uma jovem aprendiz, que consegue forçar sua participação na viagem de Lee, Joel (Wagner Moura) e Sammy (Stephen Henderson). Esse conflito é amplificado de forma que se destaca de todos os outros assuntos que envolvem a guerra – e que são tratados en passant (rápida e circunstancialmente) . O conflito principal da trama é o fato de que Lee não aguenta mais a brutalidade do trabalho e muito menos quer ser “mestre” e ensinar a alguém o que ela faz. No entanto, Jessie ganha ela pela insistência.

É um arco narrativo bonito, mas um tanto romantizado. O filme trata de uma perspectiva interessante da guerra, isso é inegável, a perspectiva de quem conta a guerra e acompanha os fatos in loco. Mas se é para falar de guerra civil, especialmente no momento atual em que estamos acompanhando um genocídio nas terras palestinas, é quase um esvaziamento não tocar em certos aspectos políticos que geram um fenômeno como esse.

Quando muito, pode-se dizer que o filme nos faz pensar sobre todos aqueles que fizeram um trabalho de cobertura na Faixa de Gaza, e hoje, já não estão mais conosco. Muitos correspondentes que atualizavam o mundo sobre a situação da Palestina, nas redes sociais, simplesmente pararam de postar. Quem registra a morte de quem está registrando? Talvez, tenha sido a reflexão da obra que mais me tocou.

Portanto, Guerra Civil, se atém a ser mais um blockbuster norte-americano que fala sobre guerra, uma certa bobeirinha romântica. Mas conta com um excelente trabalho de atores tanto da Kirsten Dunst quanto do Wagner Moura. E o roteiro também não deixa a desejar em nenhum elemento de um clássico road movie.

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Magdalena Vianna
Magdalena Vianna
Magdalena é roteirista, diretora de arte e produtora cultural. Criada nos palcos dos teatros cariocas, é filha de atores e sempre viveu e respirou a cultura do Rio de Janeiro. Apaixonada por todas as formas de arte, hoje aspira criar no meio audiovisual.

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