Minha mãe me teve quando tinha 25. Eu faço 25 mês que vem. A diferença é que, enquanto ela planejava como iria criar uma vida, eu planejo qual sabor de lasanha Sadia vou comprar à noite. Ela já estava casada, enquanto eu… Eu… Eu tô pensando se volto para o Tinder ou não.
Se bem que há 25 anos a vida era outra. Viajar era mais difícil, os aluguéis eram mais baratos e não existia nem o famigerado Tinder para ela se aventurar. O que é mais legal: ter um filho ou viajar para o Canadá? O Canadá pelo menos eu sei que não vai vomitar em mim depois de almoçar.
Vamos fazer assim: as crianças estão canceladas! A partir de agora é proibido ter filho. Os pets são os novos filhos. As plantas são os novos pets e as séries do Netflix são as novas plantas. Assim a gente tira a pressão de constituir família e ainda ajuda a não-destruição do mundo (que convenhamos já está lotado demais).
Meu filho deveria me agradecer por eu não estar tendo ele agora. É para o bem dele próprio que eu não faço isso. Imagina se ele nasce e eu levo ele no bercinho para um rave? Além de preso, eu ainda fico mal na família. Se eu tivesse uma criança em casa hoje e ela chorasse, a minha única resposta possível seria chorar de volta.
E, para ser sincero, eu nem acho que agora é a melhor época para se nascer. Como que eu vou botar uma criança no mundo num Rio de Janeiro que não tem água, que tem Crivella e Witzel, e que o Coronavírus vai chegar a qualquer momento. Eu não tenho nem coragem de sair de casa à noite, quem dirá para gerar uma vida que em 15 anos vai querer sair de casa à noite. Saudades de ser pai de um Tamagochi (e se você não sabe o que é um Tamagochi é porque você já é pai há mais de 25 anos).
A ironia é que, apesar de egoísta, a minha geração sonha em ter filhos. A maioria foca nas pesquisas que dizem que vamos morrer mais velhos que as gerações anteriores e assim calcula a prole só para depois dos 40. E o sarcasmo é que, durante esse cálculo, todos colocam na equação o fato de que se veem muito ricos no futuro. Na escola da vida, a classe favorita deles é a alta.
O medo de envelhecer pobre é real. Talvez pelas reformas políticas nos últimos anos, talvez pelas péssimas projeções de como estará o meio ambiente. Será que quando eu tiver a idade que meus pais têm hoje ainda vai existir vida na terra? E, caso exista, será que eu vou querer dar rolê com ela?
O fato é que ninguém gosta de envelhecer e, por mais que muitos achem 25 anos pouco, é o máximo que eu já cheguei na minha vida. Pelo menos eu sei que hoje os 120 são os novos 60, os 25 são os novos 13 e os 40 são… Os 40 ainda são os 40 porque os 40tões nunca mudam. Acho que vou seguir os passos do meu pai. Ele me teve com 39.
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Ilustradora convidada:
Olá! Me chamo Fernanda Barreto, tenho 20 anos e sou formada em animação e design gráfico. Sempre fui muito apaixonada por desenhos e por estórias, e por isso hoje em dia procuro algum trabalho como ilustradora. Entre os meus amigos sou conhecida por “A maluca dos gatos”, “A Kapopera”, “A maromba” e por último e, nem por isso menos importante, também sou conhecida como “A do café”. Agradeço demais quem curtiu o meu trabalho e seria ainda mais grata se me acompanhassem lá no insta para mais artes e ilustrações da “maluca dos gatos”.