A Forma da Água

Eu vou lhe contar uma história, uma história para adultos. Essa história aconteceu em uma grande cidade, dessas cidades grandes que flertam com o mar, onde a costa beija o oceano e todas as pessoas estão habituadas a bater areia dos sapatos e viver com poucas roupas sobre o corpo. Nesta cidade, vivia uma solitária mulher, que passou seus trinta e cinco anos vivendo perto das águas, apaixonada — desde a infância — pelas ondas arrebentando contra suas pernas nuas, lambendo seus cabelos, enchendo seus sonhos de areia. Enquanto parecia não levar jeito com as pessoas, como se fosse destinada a viver sendo enganada, magoada, usada, fodida mesmo, era o mar o único perigo que ela era capaz de amar. Todos os homens com quem se envolvia eram brutos e rudes, a faziam sentir como uma aberração e era incapazes de se igualar ao prazer que tinha quando estava na praia. Aos poucos, percebeu que não precisava de mais ninguém, desde que pudesse — antes dos expedientes do terrível trabalho — mergulhar seu corpo na água salgada, sentir o vento forte bater contra seu rosto, perceber a insignificância de toda dor daquela humanidade que sofria e fazia sofrer tanto.

Porém, o terrível se aproximou. Chegou o fatídico ano em que ela e todes os outres moradores da cidade foram obrigades a se trancar em seus apartamentos. Uma peste horrível tomou o mundo todo, fazendo com que as pessoas daquela enorme cidade, todas as pessoas apaixonadas pelo mar, fossem obrigadas a quase esquecer sobre tudo que existia do lado de fora de suas tristes casas. Assistindo ao mundo apenas por seus celulares e suas televisões. Apenas mediado através do olhar de outras pessoas. Crianças nasceram e cresceram sem nem saber o que era uma brisa, o céu aberto, um dia de sol, um rio ou um oceano. Uma enorme nuvem cinza cresceu acima dos prédios e das casas, como que para coroar a infelicidade daquele povo. E desde que a nuvem se formou, ela não mais saía. Os prédios começaram a desbotar. Flores não brotavam mais, nem nos vasos mais bem cuidados e fertilizados. Essa enorme sombra tomava tudo e novos sintomas da tristeza apareciam nas pessoas. E essa mulher, nossa solitária protagonista, a mulher que sabia nadar em fortes correntezas, se acalmar enquanto afundava os pés na areia, agora, estava privada da praia e da pouca chance que tinha de ficar de forma confortável perto de outres. E por maldição ou desuso, começou a perder, dia após dia, sua voz. Não podia nem cantarolar ou sussurrar nada. A sua voz, assim como o sol, se perdeu ou se escondeu, afugentando-se de toda aquela desgraça.

Nos primeiros meses, ela sonhava com as ondas todos os dias. Pensava que, por pior que fosse a praga, não deveria perdurar por muito tempo, pois o que as pessoas tinham de maldade, elas também tinham de inteligência e alguém iria rapidamente curar aquele mal terrível e libertar todos pra vida novamente. Mas mais meses se passaram e ninguém descobria nada sobre a peste. Os cemitérios ficavam lotados e o governo mais caótico e sem respostas. O seu trabalho, por um tempo suspenso, retornou podendo ser realizado duas vezes por mês, desde que vestisse enormes macacões que cobriam todo seu corpo e sua cara. Um pequeno ônibus buscava ela e outres empregades da empresa, e no caminho ela via um pedacinho da praia aparecer no horizonte. E só. Aquilo de início parecia bastar, mas depois se tornava apenas uma tortura. Não podia nem mesmo sentir a brisa através da máscara e do macacão. Passou a retornar pra casa cada vez mais exauta e deprimida. Sua pele desenvolveu pequenas alergias, como brotoejas, por falta de sol, por falta de areia, da água salgada, ou falta de alegria. As roupas novas e a quantidade de álcool gel só faziam piorar. Mais meses se passaram, a alergia deixou feridas e as feridas deixaram manchas irreversíveis. “Eu estou ficando doente, de qualquer jeito” ela pensava.

Um novo ano começou, a peste permanecia vigorosa e o governo tomava medidas mais e mais contraditórias. Permitia que pessoas, como ela, se expusessem cinco dias da semana nos seus empregos medíocres, afrouxava controle das máscaras e dos meios de transporte, mas lhes proibia em qualquer circunstância ir à praia. A rotina no trabalho voltou a ser mais frequente, o ônibus fretado cada vez mais lotado, e o mar cada vez mais distante. Tão distante que não conseguia nem mais sonhar com ele. E sua mudez era tanta, que tampouco conversar sobre ele com as outras pessoas ela conseguia. Até chegou a se perguntar se não estava se tornando também invisível, pois ninguém lhe dirigia nem mais cumprimentos ou olhares sequer. Vez ou outra, conversavam diante dela como se ela não estivesse lá. Sobre maridos bêbados, filhos desempregados, novelas novas gravadas à distância, transas fora do casamento. E assim, no meio do burburinho ocasional das vidas patéticas, ela ouviu alguém falar sobre uma ida clandestina à praia. Alguém que tinha saído com a amiga bem de madrugadinha, antes do sol nascer e conseguido dar um mergulho e ficar um bom tempo na areia antes das rondas militares se intensificarem. Ela não pôde acreditar, seu estômago se revirava, seu coração acelerou, era como ouvir detalhes sórdidos de uma transa deliciosa. Pôde, pela primeira vez em meses, vislumbrar o mar.

Naquele dia mesmo, ela voltou pra casa e se preparou para sair na madrugada, clandestina, excitada com a possibilidade de pôr os pés na água depois de tanto tempo. Mas o destino, ou o acaso, nos prega peças inimagináveis. E tinha preparado uma surpresa especial para ela naquela madrugada sombria.

Primeiro, se surpreendeu ao se enfiar no seu antigo e preferido maiô. Maiô que tinha ficado mais apertado, mostrando que seu corpo não era mais o mesmo desde o início daquela epidemia. Além de que, agora seminua diante do espelho, se deparava com sua pele repleta de feridas e manchas. Mas aquilo não a impediria. Seu compromisso com o mar era maior. Não seria o maiô ou sua pele que a fariam desistir. Penteou os cabelos num lindo e longo penteado, pintou as unhas, se preparou como quem se prepara para um primeiro e muito desejado encontro. Sentia-se úmida só de pensar no barulho das ondas arrebentando na areia. Saiu pelos fundos do prédio, mascarada e silenciosa. Caminhou apressada e determinada pelo escuro. Uma neblina tomava as ruas, os postes do seu bairro não davam conta de iluminar tudo, facilitando com que nossa ingênua protagonista avançasse corajosamente noite adentro sem ser vista. Uma noite propícia pro seu caso secreto, pra sua escapada. Cruzou com poucos carros de polícia, outros do exército, que pareciam muito mais preocupados em importunar moradores de rua e estabelecimentos comerciais do que em percebê-la. “Talvez não fosse invisível, mas apenas insignificante”, pensou. E isso, ali, lhe era uma vantagem.

O medo real só bateu quando chegou diante da enorme costa. Percebeu os prédios sumirem atrás de sua cabeça e o oceano negro e onipotente tomar o horizonte. O luar aparecia refletindo nas águas escuras, talvez o único lugar em que a nuvem dava trégua e a lua podia dar as caras. Mas não deixava de ser o lugar perfeito para que alguém a agredisse sem nunca ser pego. A adrenalina era grande, mas o espanto diante daquela visão deslumbrante era maior. Viu um pequeno posto de guarda há alguns metros de distância, com barulho de música e silhuetas femininas dançando seminuas. Sentiu-se mais segura enquanto caminhava para o extremo mais afastado e escuro da praia. Tirou ansiosa o sobretudo, deixando a luz do luar tocar sua pele machucada. Correu para beira da água. Seus pés sendo beijados pela espuma. Calafrios subindo sua coluna. A água batia nos joelhos, um sorriso largo tomava seu rosto, uma alegria imbatível sacudia sua alma — então o viu. O susto rompeu aquela pequena vitória. Percebeu o corpo caído na beira, agarrado a uma pedra. Poderia ter ido embora, se afastado de pavor. Mas algo lhe dizia que não podia ser o tipo de pessoa que larga alguém daquela forma. Se aproximou, pensando que poderia se tratar de uma pessoa ferida ou afogada. Alguém que precisasse do seu socorro. E ser necessária lhe atraía. No entanto, de perto, o horror crescia ao perceber que não era bem humano. Era como um enorme monstro, uma espécie de peixe-humanoide. A pele escamosa, as mãos pegajosas, as guelras, os olhos redondos e escuros. A lua iluminava sua estranha pele, parecia ferido, gotejando um sangue espesso. Ali, próxima dele, apesar do seu porte enorme, parecia indefeso, machucado. O medo deu lugar à uma estranha piedade. Tentou erguê-lo para arrastá-lo de volta pra dentro da água, mas ao tocar sua pele fria, ele se mexeu, agarrando-se a ela. Os braços gélidos pareciam grudar em sua pele. Ele a olhou, os estranhos olhos doces e apavorados. Precisava de ajuda. Ela o arrastou mais pra perto da parte rasa, onde os dois corpos podiam ser banhados na água até a cintura. Ele se virou, revelando o tronco quase humano e o enorme falo, esguio, ereto. Não exatamente um pau, mas semelhante. Ela se assustou, o soltando na água. Tentou se afastar, porém o ser se ergueu de pé diante dela e tocou delicado com as mãos aquosas no seu braço, passando os assombrosos e longos dedos por suas feridas. Ela ficou paralisada, nem conseguia dar ao mar muita atenção. Chorou copiosamente ao perceber que os dedos dele, tocando uma a uma suas feridas, as faziam desaparecer delicadamente. Sem nenhum ruído, ou dor. Apenas uma leve cócegas. Seu braço cada vez mais liso, sua pele mais macia. Teve o impulso então de abraçá-lo, agarrando o corpo dele entre seus braços como agradecimento. Seu rosto pousou sobre seu peito ferido, ouvindo bater forte o coração do monstro. Ele a envolveu também. Ela sentia todas as feridas cicatrizando, toda sua pele tornando a ficar lisa e macia no contato com a pele dele. No entanto, bruscamente, o coração dele enfraqueceu e seu corpo pendeu pra trás. “Toda cura tem um custo” ela pensou. Curá-la estava o matando. Aquele ato de bondade a encantou. Como podia um ser grotesco como ele decidir ajudar uma mulher desconhecida como ela? Sentiu que precisava retribuir a ajuda. Deixá-lo ali era perigoso demais, afinal o dia já ia raiar e os homens o encontrariam. E vai saber o que esses homens do governo fariam com uma figura como ele, poderiam matá-lo ou prendê-lo num zoológico, torturá-lo. Ela bem sabia o que se fazia com ditas “aberrações”. O sofrimento que ele poderia passar a dava nos nervos. Precisava tirá-lo de lá até que ele estivesse forte e curado. Até que pudesse nadar embora pra longe daquele mundo cruel e tosco, que não merecia tão mágico curandeiro. Salvá-lo era sua sina, ela podia sentir.

O retirou da água e o envolveu no sobretudo. Percebeu que ele retomava aos poucos o ânimo. Apoiou seu corpo sobre os seus ombros e começou a caminhar para fora da praia, arrastando-o, apoiado sobre ela. Ele cambaleava, quase inconsciente, confiando cegamente no rumo em que aquela forte mulher o levava. Atravessaram como um casal de bêbados pela noite escura, até chegar nos fundos do apartamento. Entrando no elevador, ele entrou em desespero. Começou a se sacudir e debater, respingando nas paredes, no chão e no espelho. Emitia um estranho gemido, apavorado. Ela tentou acalmá-lo, acariciando seu rosto, segurando firme em sua mão, tentando fazê-lo entender que deveria ficar quieto, que estavam quase chegando. De algum modo a ternura dela o acalmou e ela seguiu carregando-o até seu apartamento.

Sem acreditar no inesperado sucesso daquele salvamento esdrúxulo, encheu sua velha banheira de água e virou todo o sal que tinha lá dentro. Ele rapidamente se livrou do sobretudo entrando na água e ficando submerso. Imóvel. Os olhos cerrados. As guelras abrindo e fechando. Ela aproveitou para limpar a bagunça no elevador e nos corredores, com medo de que alguém tivesse percebido, que alguém a denunciasse. Quando finalmente terminou, a mulher retornou ao banheiro em que repousava a criatura.

Ao abrir a porta, um cheiro forte de mar impregnou suas narinas. O chão parecia repleto de areia molhada e a água salgada da banheira transbordava pra fora, volumosa. O ser ficou de pé, agora embaixo da iluminação amarelada do banheiro, eles podiam se ver melhor. A pele dele, em parte lisa, outras escamosa, reluzia um tom azul esverdeado, vibrante. As longas pernas de pé, com forma feito caudas. O estranho sexo, grande e longo, agora mole, mas ainda exposto. Os olhos dele brilharam diante dela. Hipnotizantes. “Você é lindo”, ela queria lhe dizer. Podia sentir a doçura em seu olhar. As águas da banheira se agitaram, em pequenas ondas. Como se ele entendesse. Palavras não lhe eram necessárias. Ele abriu uma das mãos, ou seriam patas, revelando uma enorme pérola negra. Ela se aproximou devagar e ele entregou a pérola em suas mãos. Como um precioso presente. Ela tremia, fitou a pérola, encantada, mas sem saber muito que uso dar a ela. O ser sorriu, gentil. Ela então percebeu os arranhões em seu corpo, pequenos pedaços de plástico presos a sua pele. Começou a tirar um por um, com carinho. Tirando os plásticos, os dois enamorados de tanta ternura, sentia as águas se agitando. Estar com ele era como estar com o próprio mar encarnado, sua praia. Tudo que ela viveu parecia ter a preparado para aquele momento. Era preciso não temer, ter coragem pra seguir a correnteza. Ela entrou na banheira.

Com os pés na água, ao lado dele, inesperadamente, ele tocou com os longos dedos a alça do seu maiô, retirando-a. O peito dela exposto, sua barriga, até cair totalmente e expor sua buceta. Uma onda da banheira bateu contra ela, sua pele arrepiou, seus pelos arrepiaram. Ainda agarrava a pérola negra firme em sua mão. Algo novo relampejava em seu peito, um sentimento tão salgado e carinhoso, que ela nunca teve oportunidade de experimentar. Um tipo de presença que não tinha nem antes, quando todos se viam o tempo todo, com nenhum homem com quem se deitou, com nenhuma alma no mundo. Sua buceta latejava. Seu mamilo ficou duro. Um dos braços dele se enroscou em sua perna. Ela iria ser amada. Provar do amor assim, em uma circunstância tão estranha e absurda. Mas era melhor do que nunca prová-lo. Abriu as pernas, ainda em pé e deixou o dedo longo, gelado e aquoso tocá-la. Era diferente de qualquer toque que seu clitóris já tivesse recebido. Era pegajoso e firme. Ora fazia pequenas sucções, ora sacudia-se em ritmo acelerado. Como mão e língua ao mesmo tempo. Alternando-se. As pernas dela foram ficando moles. Sentou na banheira. Sua bunda tocando o fundo arenoso, a buceta agora submersa. Os dedos dele, embaixo da água, eram ainda mais ágeis e ardilosos. Percebeu que ao masturbá-la, ele ia ficando duro, ereto. O membro esguio e firme aparecendo. Ele estava gostando, aquilo o excitava. Vê-lo se excitar, a excitava mais ainda. As pernas agora totalmente abertas, o corpo apoiado na borda da banheira. Sentindo ondas batendo suaves contra seu peito. Então a água começou a esquentar, assim como ele. Seu toque de gélido, foi ficando cada vez mais quente. Com uma das mãos ele a tocava, com a outra, começou a penetrá-la, fazendo novos movimentos dentro dela. Um gosto de mar veio em sua boca. Ela arfava e arfava de prazer, se contorcendo. As paredes do banheiro pareciam suar com eles. A atmosfera úmida os envolvia. Ela quis beijá-lo, aproximando seu rosto do dele. Ele então tocou seus estranhos lábios em sua boca, colando um corpo no outro e a puxou pra baixo da água. Ela, de início debateu-se. Depois se acalmou e percebeu que conseguia aguentar mais do que imaginava submersa. Se fechasse os olhos, era como se o oceano a acolhesse. Um oceano sereno e quente. Ele encaixou-se nela e meteu o longo falo em sua buceta. Primeiro a cabeça, depois o corpo esguio do membro. Quando entrou completamente, toda pele dele reluziu. Um brilho forte irradiava de suas escamas, de seus olhos. Começou a meter, entrando e saindo, entrando e saindo, de dentro dela embaixo da água. Mais e mais radiante a cada metida. Então, empolgado, começou a meter mais rápido e o falo, dentro dela, girava e vibrava em igual empolgação. Suas pernas principiaram a tremer, depois sua barriga, seus braços, todo seu corpo. O prazer era quase sufocante. Precisava de ar. Esticou o rosto para fora a água, ao abrir a boca, quase em desespero, percebeu ele tomar a pérola de sua mão e colocar em sua língua. Ela sentiu a pérola negra, fria e aveludada em sua boca. Chupou a pérola, enquanto retomava o ar e acalmava sua respiração. Teve a sensação de que ia desfazendo em sua língua. Um gosto doce e espesso. Ele cruzou suas caudas com as pernas dela, quase sentando-a em seu colo, os dois de frente um para o outro. Com a pérola em sua boca, sentiu ele voltando a penetrá-la. Agora fitando fundo em seus olhos. Ela rebolava, sentando nele. A pérola quase não mais existia. Ele envolveu o corpo da mulher em seus longos braços, escamas contra pele. Meteu mais forte e firme, vibrando sem parar. Ele fechou os olhos, um gemido baixo e pesado saiu de sua boca entreaberta. Ela pode ver fileiras de pequenos e finos dentes. A água se agitou novamente, o chão do banheiro todo molhado. A pérola dissolveu, escorrendo por sua garganta. Ondas mais fortes batendo contra suas costas. O barulho do próprio mar tomando o banheiro. O orgasmo vindo para os dois. A pele dela começou a brilhar também. Sentia como cócegas em seus interiores. O membro pareceu crescer ainda mais, metendo mais fundo dentro dela. Ela gemeu. Sua voz ecoou no banheiro, como que ecoando em uma gruta. O orgasmo a tomou e arrancou de volta sua voz.

Lágrimas escorriam dos seus olhos. Ela o agradecia e o agradecia, sem ao menos saber se ele podia entender. Beijava e beijava o pescoço, o tronco dele, suas feridas. Se pudesse, lhe curaria também. Mas podia amá-lo, como quer que fosse. Tudo serenou outra vez. O cheiro de mar foi se dissipando. Ficando apenas areia e poças por todo cômodo. O falo foi se encolhendo até sair de dentro dela. Ele se aquietou, afundando novamente. A água ficou morna e depois fria. Quando ela percebeu, seus dedos estavam enrugados, sua boca roxa. Levantou-se e se envolveu em sua toalha. A mulher olhou-se no espelho. Os cabelos molhados e emaranhados, cheios de areia, a pele radiante, o enorme e incontrolável sorriso. Nunca se sentiu tão bonita. Seu coração estava quente. Se a vida é apenas o afogamento de nossos planos, em algum momento precisamos aprender a aproveitar o mergulho. Estranhas e extraordinárias coisas acontecem nos períodos mais mórbidos e violentos. Às vezes, há o amor. Uma pequena flor irá nascer, depois de um longo ano, no jardim de alguém A esperança pode começar assim.

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Ilustradora:

Carolina Morales

graduanda em pedagogia pela PUC-Rio, cenógrafa e caracterizadora do Grupo Fúria, coletivo teatral, trabalha com artes plásticas e é tatuadora iniciante – Carolina Morales é cientista.

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Julia Limp
Julia Limp
É artista multifacetada. Tem casa no teatro, onde está em formação, mas já trabalha profissionalmente precocemente como atriz e diretora. Tem quintal na música, onde canta, compõe e tem algumas coisas já gravadas e crescendo em direção ao mundo. Mas fez cama na palavra, com quem se deita e tece prosa, cada vez mais perigosa e úmida. É muito surto e muito afeto, trabalha com muito tesão e às vezes com raiva. Pode morder, mas esperamos que só de sacanagem.

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