Do fígado, com amor

Ilustrador convidado: João Vieira

Nunca neguei que é difícil te esquecer, mas agora a situação está totalmente insustentável. Não falo nem por mim, mas sim por um pequeno amigo que carrego dentro do meu corpo que não aguenta mais apanhar tanto: meu fígado. Achou que era o meu coração, né? Esse aí tá distraído ouvindo músicas da Adele e batendo por outras pessoas. O que realmente está sofrendo desde que você saiu pela porta é o meu pequeno e amado filtro que carrego logo atrás da costela.

Tenho que admitir que no fundo no fundo eu já sabia que aquela relação que vocês dois tinham fosse acabar em algum momento, onde você dava para ele só uma cervejinha num bar da Tijuca e tudo ficava bem. Mas não esperava que fosse virar essa guerra fria – sempre ponho gelo na bebida – entre você e ele. O que torna a batalha totalmente injusta é que de um lado estão os mísseis de Cuba – velhos e acabados – e do outro os shots de Tequila da Fosfobox, mais potentes que qualquer bomba atômica e mais perigosos que qualquer reação nuclear.

Eu já tentei de todas as maneiras possíveis apaziguar essa situação: voltar para as semanais cervejas-de-fim-do-dia não é mais eficaz. As tão queridas balas do final de semana levaram ele para cama de hospital mais rápido do que previ. E partir para os antidepressivos é algo que o chefão dele, aquele bigodudo do andar de cima que atende pelo nome de Sr. Cérebro, nunca o permitiria fazer.

Cheguei a achar que precisava encontrar o ralo secreto para que toda aquela água turva escoasse. Mas, depois de dias com minhas tralhas de mergulho procurando o buraco que magicamente resolveria meus problemas, vi que ele não passava de uma ilusão. Esse alagamento não estava para peixe.

Essa cartinha é um pedido de clemência para que vocês fiquem em paz. Juro que nem falo por mim, quem me pediu para te escrever isso foi ele. A bandeira branca já está erguida aqui no meu abdômen, quando fico com fome dá pra vê-la direitinho. Então pelo amor de deus: tratem de ficar de bem antes que aconteça uma Chernobyl dentro de mim.

Com amor, do fígado.

* * *

Ilustrador Convidado:

João Vieira

Pintor digital, ilustrador e Concept artist. Amante de livros de terror, ficção e desenhos infantis. Desenhando sempre. Em breve internacional.

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Gustavo Palmeira
Gustavo Palmeira
Estudou em colégio de padres, era 90% sexy no Orkut, mas hoje infelizmente, alem de roteirista, se apega fácil a qualquer um que der moral no Tinder.

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