O stand-up é uma forma de arte bem particular. Juntando algo do teatro e atuação (embora não existam personagens ou elenco) e algo da escrita e da dramaturgia (embora não exista uma narrativa convencional). Esse fazer artístico sempre foi visto como uma forma de expressão menor; por um tempo compartilhei desse pensamento, mas ao começar a assistir alguns especiais e ler um pouco sobre o tema, fui forçado a mudar de opinião.
Caso não houvesse nada a testemunhar a seu favor, a comédia stand-up pelo menos teria iniciado a carreira de atores como Eddie Murphy, Richard Pryor, Robin Williams, Jim Carrey… A lista é longa de mais para ser escrita. De fato, lugares como os clubes de comédia Comedy Store, The Improv ou Comedy Cellar, foram verdadeiros celeiros para comediantes que marcaram época. Mas esse tipo de apresentação tem muitas qualidades.
No entanto, não é só pelo seu potencial crítico que essa modalidade de comédia deve ser reconhecida e valorizada. Sem muitos recursos além de alguns efeitos de luz e alguns poucos objetos “cênicos”, tudo com que o comediante conta são sua voz, seu corpo e sua vivência, assim seu domínio da linguagem é crucial. No stand-up, o texto e o encadeamento de ideias são fundamentais, não é por menos que muitos comediantes, também trabalharam como roteiristas no cinema ou na televisão.
No entanto, não só de traumas e dor vive o humor, alguns comediantes preferem focar em pequenos dramas pessoais ou apenas em situações cotidianas. Nessa linha temos Mike Birbligia (que tem um ótimo especial chamado “My Girlfriend’s Boyfriend”), John Mulaney, ou os já veteranos Jerry Seinfeld e Ray Romano (Sim, o cara de “Everybody Loves Raymond”). Não é por menos, que esses dois últimos, estrelaram suas próprias sitcoms.
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