Aceitar proteção de homem não me faz menos feminista

Se são os homens que nos agridem qual o problema deles mesmos nos defender?

Essa treta com Will Smith levantou discussões de que mulheres não precisam da proteção de homens. Acho uma bobagem. Precisamos sim. Não porque não sabemos nos defender, mas porque quem nos agridem são os homens. Jada poderia ter subido no palco e dado uma tapa na cara do pseudo comediante, poderia. Mas que risco ela iria assumir? Ser agredida de volta? Ser rechaçada por todo um planeta?

Num mundo cruel como esse – principalmente para as mulheres negras – penso que a proteção de homens segue sendo necessária. Não porque eles são machões. E sim porque a todo tempo somos vítimas. Podemos ser ridicularizadas, violentadas, mortas e estupradas a cada esquina. Essa é a verdade. A mais dura verdade.

Outro dia escutei uma história de um conhecido que ficou bêbado no carnaval e acordou no outro dia no meio de um parque sozinho. Quando uma mulher poderia ter feito o mesmo sem ser agredida? Estuprada? Não temos liberdade. O nosso lugar de vulnerabilidade nessa sociedade patriarcal é gigantesco.

Por isso mesmo, quando estou entre homens, aceito cuidado e proteção sem crise. Peço para me levar até o Uber. Para caminhar comigo numa rua mais esquisita. Para estar do meu lado em qualquer situação de risco. Proteção, saibam, é muito diferente de controle. De dizer o que nós devemos ou não fazer. De domínio dos nossos corpos, desejos e vontades. Proteção é apenas cuidado. No caso de Will foi colocar limites numa situação de extrema violência com a mulher que ele ama.

Muito mais dolorido que um tapa é ridicularizar uma mulher ao vivo para todo o planeta. Violência não é caminho, fato. Mas atitudes violentas, por vezes, precisam ser respondidas à altura. Homens babacas não podem se sentir livres para fazerem o que bem entenderem com mulheres, com mulheres pretas. Esse é o ponto. E nós, mulheres, podemos e devemos nos levantar coletivamente contra esse tipo de humor imbecil e humilhante. Piada e agressão são coisas distintas.

Homens não podem se sentir livres para fazer chacota da gente. Principalmente com mulheres negras que já carregam o peso de todas as opressões do mundo. Humilhar mulheres deve parar de ser lugar comum. Temos nossos corpos, intimidades e sexualidade expostos a cada momento. Isso é um dos mais absurdos instrumentos de controle. Com esse tipo de violência homens dizem a todo tempo o que podemos ou não fazer. Como ou não podemos ser.

Penso que aos homens minimamente conscientes cabe a tarefa de nos proteger evitando que mulheres sejam violentadas entre os seus. É preciso colocar limites. Dá um chega para lá nos brothers. Parar com tanta irmandade. Pontuar o quanto é errado nos objetificar e humilhar. Por vezes, dando um tapa até. Quem não melhor que homens para colocar limites na violência que eles mesmos praticam?

Cuidamos e protegemos homens sempre. Até quando eles não merecem. Também merecemos e precisamos de cuidado. Esse também precisa ser o dever dos homens. Euzinha aqui achei o tapa necessário. Como mulher, me senti honrada.

E vocês, o que pensam disso?

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Daniella Burle
Daniella Burle
Apaixonada por contar histórias, estórias e ler o mundo, se divide entre o campo artístico e o universo acadêmico. Foi ganhadora do prêmio Ariano Suassuna de Cultura Popular e Dramaturgia em 2019 com o texto da peça Eu sou o Homem. É formada em roteiro pela Escola de Cinema Darcy Ribeiro (2020). E também graduada em Arquitetura e Urbanismo (2011) pela Universidade Federal de Pernambuco, mestre e doutoranda no Programa de Pós-graduação em Urbanismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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