Liberdade, sociedade e experiência.

Em uma frase inspirada, Sartre disse que somos condenados a ser livres. No mundo contemporâneo, nos afastamos dessa “prisão” projetando nossas sensações e sentimentos nas coisas.

Ser livre é responder por si, em mais uma das milhares de definições sobre liberdade que existem. Nossos sentimentos e emoções são fruto dessa necessária liberdade. É ela que deve sempre nos moldar, torneando com precisão nosso eu. Quando coletivizamos ou indefinimos essas sensações, generalizamos uma realidade que como tudo no universo é relativo, ou seja pode mudar, pode construir-se diferente.

Caminhando pelos parques e ruas de Amsterdã, percebi o que descrevi acima. O medo e a desconfiança trazidas na bagagem de mão do Brasil, e passadas incólumes pelo raio-x da alfândega europeia ocuparam minhas primeiras impressões na cidade. Lugares ermos que tarde da noite no nosso querido e reclamado Rio de Janeiro são motivadores de medo e apreensão são usados para se estar e passar a qualquer hora do dia ou da noite e em segurança.

A entrega da responsabilidade da percepção individual para um “saber” coletivo é que produz essa discrepância existencial.

Nesse primeiro contato temi instantaneamente sobre meu bem estar ao me deparar com uma rua deserta e com muitas árvores, onde a claridade não mostrava muito a cara, caminhei apreensivo por uma calçada escolhida pela proximidade. Tão logo à frente eu vejo duas meninas de mais ou menos dez anos, passeando nessa rua com seu cachorro. Aquilo me desconcertou. A construção da ideia de coletivo de um lugar pode tomar as emoções e as conduzir para um outro lugar, que nada tem a ver com o lugar conhecido.

A entrega da responsabilidade da percepção individual para um “saber” coletivo é que produz essa discrepância existencial. Quando a percepção da liberdade como algo intrínseco ao ato de ser, de existir for regulada para conduzir nossa conduta, identificando “em tempo real” as sensações e sentimentos que sentimos (perdoem a redundância).

Como regulá-la? Exercitando-a. E é isso que a população de Amsterdã parece fazer. Em todo o momento, cada um cuida de si. Ninguém está prestando a atenção na vida do outro. O que o latino entende talvez como frieza. A sensação que dá é de que se pode sair de casa pintado todo de verde, dos pés a cabeça, que ninguém vai ficar apontando e dizendo: “olha ali o cara pintado todo de verde!”  Por  outro lado,  ao menor sinal de interpelação, eles são solícitos, simpáticos e falam inglês fluente e de fácil entendimento.

A liberdade se mostra coletivamente também no respeito à diferença e vontade do outro e do espaço múltiplo que cada um ocupa. Não é preciso dizer que isso começa na educação básica.

É um prato cheio para quem estuda ou gosta de entender de pessoas e sociedade. Para um existencialista é a certeza de que, como organismo coletivo, podemos maturar o respeito ao próximo e a prática da ética e assim caminharmos para um convívio bem mais aprazível.

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Lauro Pontes
Lauro Pontes
Professor, escritor, pesquisador, supervisor em existencial-humanismo. Doutor em psicologia pela UERJ, coordenador de especialização em Cannabis medicinal, está sempre em busca de entender nossa mente e o universo que habitamos, enquanto isso alimenta diariamente seu vicio em seriados, joga pelada e exerce a paternidade de uma pré-adolescente.

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