Tem algo mais macho que morrer na guerra?

Ilustrador convidado: Douglas Felix

Com um partido ultraconservador no poder, a Polônia já criou mais de 80 zonas urbanas por onde LGBT’s não podem transitar. Para 89% da população do país, o LGBT é um “ser anormal” e, indo além, para 25% dos poloneses, qualquer um que não seja héterossexual deve ser exterminado. Sim, o mesmo país que teve 85% da sua população judaica assassinada pelos nazistas. Parece que não aprenderam nada nem com a Segunda Guerra, nem com sua prima Hungria.

Em dezembro do ano passado, o país (quase) vizinho, igualmente repressor com as minorias, ficou chocado ao ter um de seus principais deputados flagrado em uma orgia gay em Bruxelas, tentando fugir pela janela, acuado. O deputado, Szájer József, foi um dos criadores da bizarra “Constituição Conservadora” da Hungria e já deu diversas entrevistas alegando seu contentamento em ter dificultado a vida dos LGBT’s do país – talvez por isso ele tenha ido para Bruxelas “aglomerar”. Ou seja, além de um furador da quarentena, um hipócrita.

E o pulo do gato (ou do veado) é que, como hoje em dia esse tipo de masculinidade tóxica já respira por aparelhos, ela acaba convulsionando de ódio a cada vez que acorda. A China, por exemplo, intimidada pelas representações do homem asiático sensível (hoje comuns nas músicas coreanas e japonesas), começou a investir em programas “educacionais” para tornar meninos mais viris. O criador desse programa afirmou que “os garotos chineses não desejavam mais ser Heróis do Exército”. Afinal, tem algo mais macho que morrer na guerra?

E falando em guerra e nas disfunções da “macheza”, não tinha como não lembrar do nosso presidente, entusiasta tanto do armamentismo, quanto do ódio às diferenças. O cômico (e trágico) é que, apesar de Bolsonaro falar que preferia ter um filho morto a um filho gay, ele já deu diversas entrevistas falando que estava num “namoro” com Paulo Guedes, que sua relação era como um matrimônio e que poderia ter até divórcio (quando brigarem). Não me admira o depoimento que Michele deu dizendo que queria que o marido “tivesse mais energia dentro de casa”.

Acho que, no fundo, todo propagador e apoiador dessa perseguição à masculinidade alheia é tipo aquele valentão de filme, que no final a gente descobre que era super medroso e lidava com isso amedrontando os outros. Na própria família do nosso presidente vira e mexe temos pérolas que deixam clara essa frágil virilidade. Como Eduardo espumando de ódio no twitter depois que sua ex-namorada o chamou de Bananinha, em referência ao tamanho de seu “fuzil”. Ou então quando ele fez uma live no Instagram mandando as pessoas enfiarem a máscara no rabo.

E o triste é que exemplos como esse não são apenas da esfera pública. Acontecem em todo lugar. Na minha família por exemplo, desde que me mudei aos 17 anos, um tio me pergunta se eu estou “comendo muita b*****a” no Rio de Janeiro. Ou então meu pai, que chama os amigos de “veadões” quando quer ofendê-los na pelada de domingo. Acho que já está na hora de desligar os respiradores que mantêm essas ideias oxigenadas. Ou seria melhor fugir para Bruxelas?

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Ilustrador Convidado:

Douglas Felix

Douglas Felix é ator, roteirista, comediante, apresentador e também ilustrador. Pode-se dizer que ele é quase um pato, que nada, voa e anda, mas nenhuma dessas funções com excelência. Mas pelo menos ele é um pato esforçado. Ou humilde. Ou falso-humilde, já que ele fala dele mesmo em terceira pessoa, como essa mini-bio.

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Gustavo Palmeira
Gustavo Palmeira
Estudou em colégio de padres, era 90% sexy no Orkut, mas hoje infelizmente, alem de roteirista, se apega fácil a qualquer um que der moral no Tinder.

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