Manchester à Beira-Mar e a impossibilidade de viver com a culpa

Voltamos agora para falar de um filme espetacular, que chamou atenção das premiações no ano de 2017! Um filme simples, de baixo orçamento, sobre dilemas humanos. O filme da vez é Manchester à Beira-Mar.

O lugar desse filme é a desolação, a tristeza e a melancolia. Estamos falando de um homem silencioso, cheio de conflitos internos, que abandonou seu passado e não deseja se confrontar nunca mais com ele. A fuga das memórias norteiam a dramaturgia do longa vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Original e Melhor Ator.

Pra começar, vamos deixar a trilha sonora tocando e entender a dimensão de todo o trabalho que Lesley Barber, a excelente e conceituada diretora musical canadense, teve ao compor a trilha original do filme.

Nesse trabalho, há a transferência dos sentimentos e da solidão de nosso protagonista. São evocados elementos diversos, como a presença do mar, das profundezas e os mistérios do oceano, assim como a sensação de imersão e abandono.

Temos também, assim como a geografia da cidade de Manchester à Beira-Mar, a presença do passado colonial e religioso dos Estados Unidos, através de alguns cantos sacros puritanos e hinos calvinistas.

A cidade, localizada no estado de Massachusetts, mesma unidade federativa de Salém, onde no final do século XVII, aconteceu o episódio de As Bruxas de Salém, uma sangrenta caça às bruxas com motivação religiosa. Para entender um pouco melhor sobre o caso, coloco aqui uma matéria da Revista Galileu (para acessar é só clicar) e, abaixo, uma entrevista com a historiadora Camila Maréga falando sobre o assunto.

Além disso, como dito no vídeo, esse evento histórico virou uma peça teatral de 1953, escrita por Arthur Miller, um dos maiores dramaturgos de todos os tempos. No momento em que foi escrita, a peça representava a caça aos comunistas que o Estado americano fez aos profissionais que trabalhavam no campo das artes. Se você se interessou em ler a peça, que eu considero uma obra-prima, coloco o PDF aqui (basta clicar para lê-la).

Também, em 1996, a mesma peça foi adaptada para o cinema, com Winona Ryder e Daniel Day-Lewis como protagonistas. O trailer do filme está aqui abaixo.

Na trilha também temos a presença de Adágio em Sol Menor, música que já ficou muito conhecida por permear o imaginário popular em diversos filmes, como  O Ano Passado em Marienbad, de 1961, de Alain Resnais, um dos grandes clássicos da nouvelle vague francesa, e o musical pop romântico Flashdance de 1983.

A música nos traz toda a tristeza e desolação do personagem, ao ser revelado para o público o real motivo de sua melancolia e as dores irrecuperáveis de seu passado. Uma obra de arte que conduz nossa emoção de uma forma arrebatadora. A versão do filme, pela orquestra filarmônica de Londres, se encontra abaixo.

Toda a atmosfera sentimental do filme é pensada e representada por grandes nomes que compõem a equipe. Em primeiro lugar precisamos destacar a direção impecável, sensível e grandiosa em sua simplicidade de Kenneth Lonergan, um homem de teatro e mais reconhecido por seus roteiros do que propriamente por seu trabalho como diretor.

Por sua prévia experiência nos palcos, a preparação de elenco se deu em duas semanas de leitura e discussões de mesa sobre o conceito e atmosfera do filme. O trabalho da palavra e das emoções são os grandes destaques do longa. Alguns filmes de sua filmografia estão abaixo.

Casey Affleck tem um dos melhores desempenhos masculinos da década e nos entrega toda a dor e dimensão desse personagem perturbado e agressivo. Um homem que não sabe conviver com a culpa e as suas dores. Um homem que necessita de perdão e não o busca. A cena da delegacia e do acerto de contas com sua esposa no final são duas das grandes cenas do filme. Um espetáculo!

A maravilhosa Michelle Williams, na cena do perdão, nos proporciona uma das cenas mais lindas que eu já vi na vida. Impossível não se emocionar com a dor e o sentimento reprimido de pessoas que ficam anos sem se falar e apenas precisam de uma conversa. Toda a dimensão da atriz  está ali. É uma cena matadora. E abaixo alguns filmes em que ela também demonstra todo seu potencial e competência.

Por fim, temos Lucas Hedges, excelente revelação que despontou no final da década passada como um dos grandes nomes da geração jovem de Hollywood. O ator, que transita por momentos cômicos e extremamente dramáticos, redescobre a paternidade e filiação familiar com o tio, foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante e já pode ser visto em diversos outros longas aclamados dos últimos anos, como os que estão abaixo.

Confira o trailer oficial do filme ou relembre, caso você já tenha assistindo:

Então é isso, galera! Vamos com tudo em cima desse filme, que ele tem muito assunto e muitas ramificações! Lembrando que ele está disponível no streaming Globoplay

Grande abraço! Até a próxima!

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