Quando eu era pequeno, sempre gostei de brincar reinventando objetos que tínhamos em casa: controles remotos eram naves espaciais, placas de computador eram cidades e móveis eram prédios. Tudo isso meio fora de escala, claro, mas ainda assim mostrava meu gosto por maquetes de cidades (que virou um vício em jogos de construção). Parece uma visão limitada a infância, mas ao conhecer o trabalho de Tatsuya Tanaka, tomei uma outra perspectiva sobre essa ideia.
Tanaka é um fotografo japonês de 44 anos que desde 2011 deixou de focar suas lentes para o macro e passou a pensar no micro. Desde então ele se propôs a expandir sua criatividade com o Miniature Calendar: um projeto no qual se monta cenários que reinventam os conceitos originais de objetos e espaços. Fabricando um diorama por dia.
Dessa “brincadeira”, Tanaka já criou mais de 4.000 obras, todas elas publicadas em seu Instagram, que hoje conta com quase 4 milhões de seguidores. Nesse meio tempo a escala e os tipos de materiais foram variando. Quanto mais seu trabalho foi reconhecido mais recursos ele precisou, o que o obrigou a alugar um estúdio próprio para seus dioramas. Porém, mesmo que suas obras sejam mais complexas hoje em dia a sua essência permanece a mesma: Para quem encara de primeira, existe uma certa provocação visual. Meio que um “Onde está o Wally?” do objeto que foi reinventado. Algo que quando descoberto vira uma piada visual.
Já seria bastante criativo se as obras de Tatsuya Tanaka fossem propostas 100% originais. Mas o que eu acho interessante foi que pesquisando sobre o artista me deparei todo seu trabalho se baseia em um conceito enraizado na cultura japonesa: O Mitate.
De forma literal, o Mitate significa “levantar-e-ver”. se trata de um recurso que brinca com o significado de objetos no contexto em que estão formando uma espécie de trocadilho. Como Tatsuya bem exemplificou em sua passagem no Brasil em 2023: Um jardim de pedras japonês, por exemplo, faz desenhos circulares em volta de rochas emulando ondas, que a partir de então, fazem as rochas se tornarem ilhas.
Dentro dessa dinâmica de dar significado e ressignificar, Tatsuya brinca com diferentes dimensões dos objetos de seus dioramas. O tamanho do “sushi gráfico” de uma reunião chata de trabalho, para significar a monotonia. A altura dos arranha-céus de pratos, que remetem a brincadeira japonesa de empilhar pratos como símbolo de alguém que encheu a barriga comendo. São inúmeros os exemplos e jogos de significados que cada obra sua traz. Todas elas com um título, uma história e uma conexão.
“Conforme eu vou criando uma peça, eu vou mudando cada coisa de lugar. Até conseguir criar uma história. Inclusive até pensar no que as miniaturas estão pensando. E conforme eu vou criando, eu sei que em determinado momento eu vou ter uma história. Eu vou ter um título interessante.” – Tatsuya Tanaka, em palestra na Japan House de São Paulo
Fonte: japan house
Existe uma coisa meio irônica ao se refletir sobre seu trabalho. Todo fotografo, querendo ou não põe seu público diante de um olhar diferente quando expõe suas obras. Coisa que Tanaka, mesmo não enquadrando uma pessoa viva ou uma paisagem natural consegue fazer ao simplesmente propor ao seu público a dar um novo significado as coisas que ele vê. Mesmo que seja de forma cômica.
E o engraçado disso tudo é pensar que: enquanto o Yuri criança via linhas de circuito como ruas de uma cidade, no outro lado do mundo, Tanaka dava outra perspectiva e as via como canais de um arrozal. Mesmo objeto, brincadeira diferente.
As obras de Tatsuya Tanaka podem ser encontradas em seu Instagram e YouTube e no site Miniature Calendar.
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